Pode não parecer, mas listar as experiências Top Top não é uma tarefa fácil. Viajar por um longo período por si só já é uma experiência Top Top, são tantas coisas que acontecem diariamente que nós nem nos damos conta o quanto aquilo é incrível. Na verdade, filosofando um pouco, a vida é uma experiência Top Top, nós é que nos envolvemos com tantas coisas que acabamos nos esquecendo disso.
Mas voltando à nossa viagem e inaugurando a coluna Top Top, vou colocar aqui as experiências "não turísticas"que mais nos marcaram ao longo desses meses de estrada:
1. Dirigir pelo deserto australiano:
É cansativo, é longe, mas é incrível. Você se sente tão no meio do "nada" e como o "nada" é tão grande! Passamos por vários caminhões gigantes, várias placas de "último posto nos próximos 200 km", cupinzeiros vestidos com roupas e outras coisas que preenchem aquela imensidão de "nada". Nos surpreendemos com Devil's Marble, vimos o sol nascer e se pôr no deserto, contamos infinitas estrelas. Foram muitos quilômetros e uma sensação insignificância enorme. Com certeza uma experiência Top Top.
2. Couchsurfing:
As experiências com couchsurfing de maneira geral foram incríveis. Se hospedar na casa de um local, vivenciar as rotinas, as casas, os costumes e até a "decoração"da casa é demais. Se hospedar através do couchsurfing exige uma interação social grande e muitas vezes você está cansado, doente ou não está a fim de conversar, mas vale o "esforço", vale cada conversa. As experiências de couchsurfing são únicas e muitas vezes você jamais viveria aquilo se não estivesse na casa de um local. Participamos de um churrasco no meio do nada na Austrália, tomamos cerveja admirando a lua cheia em Istambul, conhecemos um arquiteto no Vietnã, comemos até quase explodir em Beijing, conversamos horas em uma varanda na Turquia (cumprimentando os vizinhos em turco!). Dormimos nas mais diversas casas, em sofás, camas king size, no chão com apenas um edredon, na sala, quarto, num apartamento "caixinha de sapato" em Tóquio, ou um mega apartamento no Cairo. Fomos convidados ou nos convidamos. Conhecemos muita gente, pessoas que num voto de confiança abriram as portas das suas casas e nos ofereceram o que tinham. Palavras são poucas para dizer o quanto cada experiência foi especial!
3. Ficar 10 dias em silêncio:
Quem vos escreve é uma pessoa que começou a falar aos 10 meses e nunca mais parou! Ainda assim, ficar 10 dias em silêncio foi uma das experiências mais marcantes da viagem. Nunca pensei que iria gostar tanto do silêncio! Não foi fácil, mas devo dizer que lá dentro o que menos importa é falar. O retiro de meditação foi marcante para nós, foi diferente para cada um, mas sem dúvida foi um ponto alto na nossa viagem. O Suan Mokk é um lugar especial e tudo o que vivemos nesses 10 dias vai ficar conosco para sempre!
4. 35 horas em pé num trem na China:
Vocês devem estar pensando que somos completamente loucos! Como assim ficar em pé numa viagem de trem pode ser uma experiência Top Top? Fazer uma viagem de trem na China, numa classe onde só os locais viajam é algo indescritível. Nessas 35 horas vivemos a China na veia! Em vários momentos eu tinha a sensação de que fomos transportados para um universo paralelo de tão surreal que era o momento. No final estávamos exaustos, mas foi uma experiência única!
5. As cerimônias do Ganga Aarti em Rishkesh:
Este era um momento muito especial para mim. Todos os dias, ao pôr do sol, sentávamos nas escadarias em frente ao rio Gangis para participar de uma cerimônia linda. Muitos turistas, mas muitos locais também, se reuniam para cantar, colocar oferendas no rio e vivenciar a fé. Era um momento de uma paz tão grande, que é até controverso pensando no contexto caótico da Índia. As cerimônias do Ganga Aarti acontecem em vários lugares da Índia, mas a de Rishkesh é especial.
6. Pedalar pelo mundo:
As bikes preenchem um lugar especial no meu coração e pedalar pelo mundo foi demais! Nossas pedaladas foram as mais diversas, com ou sem ciclovias, em bikes que pareciam cair aos pedaços e outras "sonho de consumo". Andamos por estradas, templos, parques, na cidade, no campo. Pedalamos pelos caminhos da Noviça Rebelde, pelas ruas de Berlim, pelos templos de Angkor Wat, por parques na Irlanda, por vilas na Índia. Pedalar é diferente de caminhar, o ângulo de observação muda, a velocidade muda.
7. Assistir ao nascer e ao pôr do sol:
Picture by Noel
Isso é algo que podemos fazer todos os dias, mas nem sempre (ou quase nunca) fazemos. É legal notar como a tonalidade do céu muda ao redor do mundo. Em alguns lugares os laranjas predominam, em outros o rosa, em outros o céu é cinza mas o sol é uma bola de fogo. O nascer e o pôr do sol na África são de uma tonalidade maravilhosa. Você descobre que nesses horários existe um vento característico, que quase nunca percebemos. Assistimos o sol se pôr em vários horários e até a quase não se pôr (em St. Petersburgo, nas noites brancas).
8. Atravessar fronteiras na Ásia:
Quando voamos de um país para outro, passamos pelo processo de imigração mas é quase como ser teletransportado. Quando você cruza uma fronteira por terra a história é um pouquinho diferente, principalmente na Ásia. Pra começar a coisa é bem mais confusa, filas? Hã? O que é isso? Por maior que seja a fila de imigração no aeroporto, ela é organizada, você está numa ambiente com ar condicionado, não está carregando suas malas, é tudo muito mais simples. Quando você cruza à pé, você tem que pegar sua mochila, às vezes você é jogado de um lado da fronteira e não sabe como vai sair do outro, você carrega a sua mochila. Às vezes você compra uma passagem de ônibus achando que ela vai te levar até seu destino final e descobre que ela só vai te levar até a fronteira. Aparecem algumas "taxas"que você nunca tinha ouvido falar. E por mais experiência que tenha no assunto é sempre uma aventura!
9. Colher azeitonas em Portugal:
Essa foi para fechar nossa viagem com chave de ouro! Foi um dia muito especial. Colher azeitonas nas terras dos antepassados, quase da mesma maneira como eles faziam (claro que hoje a tecnologia facilita muito), com a comunidade envolvida é muito especial. É um trabalho cansativo, mas uma experiência super bacana. Pena que não pudemos participar o dia todo, tínhamos que voltar para Lisboa, mas valeu cada minuto que ficamos ali!
10. Sair para correr na África:
Durante o período do Overland ficamos muito tempo viajando dentro do caminhão, mas sempre que possível aproveitávamos as paradas nos campings para praticar algum exercício também (tinha uma galera animada!). Em vários lugares saímos para correr e em cada um a experiência era única. As paisagens sempre lindas e diversas, desertos, rios, animais. Mas o dia mais marcante foi na Zâmbia, quando passamos por algumas crianças, uma delas nos acompanhou e começou a correr de mãos dadas com o Manu. Um menininho chamado Richard nos acompanhou até onde conseguiu, e foi difícil deixa-lo para trás, mas infelizmente ele não podia seguir viagem com a gente!