Saímos de Chiang Mai numa segunda-feira cedo, e fomos em
direção à fronteira com o Laos. A viagem durou cerca de 5 horas e foi bem
tranquila. O ônibus era muito bom (mesmo não sendo VIP) e ainda ganhamos
bolachinhas e água (puro luxo!). O ônibus nos deixou próximos à Chiang Khong e
logo na descida pegamos um tuk-tuk até a fronteira. Pelo menos aqui o preço é
tabelado, e tem uma placa com o valor. Passamos pela imigração da Tailândia e
pegamos um ônibus (só para atravessar a ponte) e chegamos na imigração do Laos.
Aqui foi muito simples (bem mais do que imaginávamos), preenchemos o
formulário, pagamos o visto e pronto! A travessia foi muito mais tranquila do
que esperávamos. Na saída pegamos um outro tuk-tuk (nós tínhamos pesquisado o
preço e foi mais ou menos o que estava no guia) e partimos para a cidadezinha
da fronteira: Houai Xay. Conhecemos um italiano, que também não tinha hotel na
cidade e se juntou a nós para procurar um. Descemos na rua principal (ou única
da cidade) e fomos direto numa Guesthouse, que também já tínhamos lido a
respeito no Lonely Planet, e ficamos por lá mesmo (barata e razoavelmente
limpa, só por uma noite tá ótimo!). Nosso novo amigo nos convidou para tomar
uma cerveja e comer alguma coisa. Lá fomos os três, afinal, se existe uma coisa
típica do Laos é a BeerLao, consumida diariamente por todo país! Bom papo, boa
cerveja e comida boa também, o fim de tarde foi bem agradável. Depois saímos
para caminhar um pouquinho pela cidade (na verdade, pela rua, só tem uma
mesmo!), fomos a um templo e vimos o sol se por no rio Mekong. No próprio
hotel, compramos nosso passeio de barco e daí seriam dois dias descendo o rio.
No dia seguinte, nos despedimos de nosso novo amigo, que foi
para o norte do país, e seguimos para o “porto”. Teoricamente, nosso barco
sairia às 9:30 da manhã, mas como tudo no Laos tem um horário próprio, saímos
às 13:00 (Lao time).
A descida é muito bonita. Muitas pessoas acham monótona, mas
nós gostamos muito. É gostoso observar a paisagem mudar, as vilas ribeirinhas,
as pessoas que aparecem e desaparecem nas margens do rio. De vez em quando você
vê crianças brincado, velhos pescando, plantações, animais... A viagem de barco
tem uma outra dinâmica, ela é lenta e contemplativa.
No final do dia paramos em uma vilazinha, Pak Beng, para dormir e
seguir viagem no dia seguinte. A vila também só tem uma rua e nela estão os
hotéis e restaurantes da cidade. O Laos foi por muito tempo um protetorado
francês e como herança dessa época ficaram as padarias e seus deliciosos
pãezinhos, croissants, muffins! A Dri ficou surpresa! Nunca tinha passado pela
cabeça dela comer um croissant delicioso no Laos! Ela estava esperando uma
noodle soup de manhã e não um pãozinho. Engraçado como felicidade pode estar
onde menos imaginamos, e no caso da Dri ela estava no pão francês com manteiga
no café da manhã!
Seguimos viagem e o barco saiu pontualmente! Dessa vez, o
barco era um pouco diferente, com mesas. Na nossa mesa estava também um senhor
alemão e uma canadense. Já no começo da conversa, descobrimos que o senhor
alemão é de origem da mesma região da família da Dri. E o mais curioso é que a
história da avó dele, que durante a guerra teve que ir embora da casa sem olhar
para trás, é a mesma dos familiares da Dri que viviam ali. Coincidências da
vida! Nesses 5 meses de viagem, ao longo do nosso caminho fomos conhecendo
pessoas dos mais diversos países e com as mais diversas histórias, mas foi
muito engraçado conhecer alguém com uma mesma história de família e com
descendentes de uma mesma região. Uma brasileira e um alemão identificarem um
ponto comum em suas histórias dentro de um barco, descendo o rio Mekong no
Laos!
Assim como o dia anterior, a viagem correu tranquila, com
momentos de conversa, outros de contemplação e assim fomos até Luang Prabang!
O único problema foi na hora em que chegamos em Luang
Prabang. O barco deveria parar no “porto” próximo ao centro da cidade, porém a
regra foi mudada e os barcos estão parando a 10 km do centro. A parte ruim
disso, é que você é obrigado a pegar um tuk-tuk, com um preço já tabelado e caro, e não
tem uma segunda opção. Nós não concordamos com esse tipo de coisa, porque você
acaba ficando de mãos atadas, sem ter opção. Quando os barcos paravam próximos
ao centro, as pessoas tinham opção de ir a pé, ou negociar o preço do
tuk-tuk, mas dessa maneira não mais. Ficamos tristes quando vemos que ao invés
de explorar o turismo, estão explorando o turista! De qualquer maneira, isso
não estragou a beleza da nossa viagem e nós realmente gostamos da viagem de
barco pelo rio Mekong. A viagem foi tão inspiradora, que ainda dentro do barco
a Dri escreveu algumas palavras que refletem um pouco da viagem:
"A viagem começa lenta... A espera para a partida é longa,
mas para descer o rio e sentir o rio não se pode ter pressa. O caminho é longo,
são dois dias, mas para que apressar as coisas? A paisagem muda, as pessoas
mudam, alguns entram no barco, outros saem do barco. Nós vamos até o destino
final, mas me pergunto se existe um destino final? Se pensar bem, nós
desceremos também no meio do caminho, não vamos até o mar, e quando o rio chega
ao mar ele também não acaba, mas se transforma em muito mais água e se dissolve
em vários pontos, e continua a correr...
As águas mudam, a paisagem muda. Às vezes a correnteza fica
forte, o rio corre rápido... Às vezes as águas acalmam, quase não se nota que
continuam a se mover... Assim também são os barcos... Alguns passam rápido,
rápido até demais, outros estão parados, outros se movem lentamente, outros apenas
mantêm o ritmo...
O sol muda de posição, passa de um lado para o outro, cai no
final da tarde... Renasce no dia seguinte. Desaparece no meio das nuvens. O dia
amanhece nublado, frio, as nuvens encobrem o sol... De repente, o rio faz uma
curva e as nuvens desaparecem, ali está o sol. Ele brilha, se reflete no rio,
aquece o barco.
As cores mudam... O rio é marrom, mas às vezes dourado... Às
vezes um pouco esverdeado. E quando a noite cai, o rio é negro, em algum ponto
é prateado como a lua...
O verde muda... Em alguns pontos é mais claro, em outros
mais escuro. As árvores mudam... Às vezes são de um verde tão intenso, às vezes
são marrons, às vezes são verde claro, outras escuro, outras vezes vermelhas...
Algumas com muitas folhas, algumas com poucas folhas, ou ainda sem nenhuma
folha.
Às vezes montanhas, às vezes pedras, às vezes areia... Às vezes as montanhas tocam o céu, às vezes
formam um vale. Em alguns pontos os verdes da montanha se mesclam com o azul do
céu.. Ah, que céu azul! Mas o azul também muda, às vezes mais claro, outras
mais escuro, às vezes cinza, às vezes branco... Às vezes muitas cores, as cores
do crepúsculo...
A margem do rio muda... Pessoas aparecem e desaparecem...
Algumas lavam roupas, outras pescam, outras apenas nadam, outras se lavam...
Algumas acenam, outras olham com curiosidade... Algumas casas surgem, uma vila
surge, um templo surge...
A vida passa ao longo do rio, mesmo quando ela parece
parar... E a vida segue, como o barco que desce o rio, como as pessoas que
entram ou saem do barco, como os animas que matam a sede no rio. O sol se põe,
o sol nasce... E o rio segue o curso, e as águas mudam e em algum momento elas
se transformam em mar..."
By Dri Salles
Um comentário:
Queridos filhos!
Dri, pra mim o rio Mekong se tornou muito mais importante agora do que quando recebeu o Marlon Brando e o Rambo, ele despertou a poeta que existe dentro de você. Maravilha seu poema. Outra coisa, o encontro com o alemão vem confirmar aquela teoria de que entre duas pessoas totalmente estranhas existem no máximo 7 conhecidos.
Bjs.............Cristina e Luiz
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