18 de março de 2016

As perguntas que não querem calar

Uma viagem de volta ao mundo desperta a curiosidade (ainda bem!) e é claro que perguntas e mais perguntas surgem por aí. 

Qual país vocês mais gostaram? 
Quanto vocês gastaram? 
Quanto custa uma viagem de volta ao mundo? 
Vocês largaram os empregos? 
Vocês tiveram medo? 
Vocês passaram muitos perrengues? 
O que mudou para vocês? 
Vocês compraram muitas coisas?
Como você sobreviveu com tão poucas roupas?
E pior aí vai..... São muitas perguntas, muitas delas sem resposta.

O país predileto é uma que não conseguimos responder. Nem eu, nem o Manu conseguimos escolher nosso país queridinho. Temos vários queridinhos, nosso roteiro foi muito variado, passamos por lugares tão diferentes um do outro, que escolher apenas um preferido é sacanagem. Escolher um implica em deixar muitos outros e é tão difícil! Para tentar alguma resposta nós categorizamos os países. Por exemplo, se a categoria de país predileto for para morar, a Austrália ocupa o topo da nossa lista (mas aqui estamos falando apenas dos países da nossa volta ao mundo, certo?). A Austrália por si só já nos agradou muito, além disso conhecemos tantos australianos legais ao longo do caminho que fizeram com que o país ocupasse uma posição privilegiada no quesito país para se viver! Ainda assim, na categoria "geral" não conseguimos responder!
Quanto gastamos? Para esta temos uma resposta. Pelos 12 meses (os outros 3 meses foram os que ficamos no Reino Unido e fizemos uma conta separada) gastamos aproximadamente US$ 120,00 por dia, o casal (US$ 60,00 por dia, por pessoa), incluindo tudo (passagens, hospedagens, mochilas, calcinhas e cuecas). Foi uma viagem de baixo custo, comparando com viagens de férias e até mesmo com sites de mochileiros, mas sim o montante final é alto (em números absolutos). E já respondendo a próxima pergunta, esse pode ser um valor para você ter como base para fazer a sua volta ao mundo, mas o valor de uma volta ao mundo é relativo e depende de você, do seu estilo de viagem, dos países que irá visitar. Conhecemos pessoas que viajaram com mais e pessoas que viajaram com menos. Viajar barato é um estilo de vida e para isso você tem que estar disposto a abrir mão de muita coisa em prol de outras. Uma viagem de volta ao mundo pode custar menos que um ano que você passa em casa, pagando suas contas, comprando coisas. Pode custar menos que um carro novo, também. Você pode trabalhar ao longo do caminho, pode visitar somente países baratos e por aí vai. Ela custa dinheiro sim (por mais que você viaje barato), mas tudo é uma questão de programação e prioridade. 
Vocês largaram os empregos? Sim, nós largamos nossos empregos, nós corremos o risco. Para muitos esta é a parte mais difícil, principalmente na fase atual que está o país. É muito fácil nos acomodarmos numa situação estável, dentro da nossa caixinha, num terreno conhecido. O emprego é para muitos a "desculpa"perfeita para manter tudo como está. É cômodo, é garantido. Pedir demissão requer coragem, não há dúvidas, e é aqui que você vai vacilar, vai repensar se a sua viagem é uma loucura, vai até (quem sabe) receber uma proposta de aumento de salário. Por outro lado, quando você pede demissão você dá o grande passo no escuro, você sai da sua caixinha, da sua zona de conforto e você sente uma liberdade (um médão também) sensacional. E olha que eu adorava meu emprego, meu chefe, meus amigos (para mim eles sempre foram mais que colegas de trabalho), adorava meu local de trabalho e o que eu fazia. Largar um lugar assim não foi fácil, mas mesmo assim foi libertador, eu senti que estava tomando as rédeas da minha própria vida. 
Vocês tiveram medo? É claro que sentimos medo! Muito! Mas "se tiver medo, finge que tem coragem e vai com medo mesmo"!
Vocês passaram muitos perrengues? Passamos muitos perrengues também. Quando você sai da sua zona de conforto você encara o desconhecido e tudo mais que vier junto. Estar num país diferente, com uma língua diferente, muitas vezes com uma dificuldade enorme de comunicação, é inevitável, você vai passar por alguns perrengues. Não passamos por nada muito sério, acho que o susto maior foi quando roubaram meu colar em Durban, mas passamos por vários momentos que duraram horas! Momentos de fome, de frio, de cansaço, sede. Momentos em que não sabíamos se o taxista, estava nos levando para o lugar certo. Momentos em que pensamos que dois valem mais que um. Momentos de tensão. Mas os momentos seguintes, quando tudo se resolvia, sentíamos um alívio gigantesco! E todos os momentos fizeram parte da viagem, da experiência e de tudo que nos propusemos a viver!
O que mudou? Acho que tudo mudou! Mas para mim o que mais mudou foi a minha percepção do mundo. Hoje eu consigo enxergar o mundo como um só. Lugares e pessoas estão conectados de alguma forma e esta conexão está mais clara para mim agora.
Vocês compraram muitas coisas? Não compramos quase nada, excessão para os ímãs de geladeira e bandeirinhas para colocar na mochila. Fizemos algumas reposições de roupa, mas só. Passamos ilesos a muitas promoções, coisas lindas, lembrancinhas. Carregar tudo o que se tem é um ótimo exercício de desapego! Tudo é legal até você levar nas costas, e cada peso extra faz toda a diferença!
A última pergunta é especial para as meninas! Vai por mim, dá para viver com menos roupas! No dia-a-dia variamos mais as roupas do que numa viagem. O trabalho exige, a sociedade exige. Numa viagem você não tem compromissos, você vai ter que carregar sua roupa, vai ter que lavar sua roupa (muitas vezes à mão) e você vai descobrir que trocar de roupa toda hora não é nada prático! O ideal é fazer uma mala bem objetiva, com roupas práticas e multifuncionais! Eu fiquei muito satisfeita com minha mala, usei tudo o que levei. Foi uma mala objetiva, que atendeu às minhas necessidades! E lembre-se, se você realmente precisar de alguma roupa nova existe a opção de compra! Não carregue um peso extra para caso você precise algum dia, carregue o necessário, suas costas agradecem!

E você, tem alguma pergunta que não quer calar? Se tiver, manda aí (pode ser pelos comentários, e-mail, página do face ou até pessoalmente).

Beijos, abraços e viagens!
Dri

11 de março de 2016

A volta

Talvez a volta seja um dos temas mais recorrentes quando falamos em tirar um período sabático, e que durante o seu período você também vai pensar nela. O mais engraçado é que na maior parte das vezes nem partimos e já estamos pensando em como será a volta. É também uma das primeiras perguntas que respondemos quando dizemos que vamos viajar por tempo prolongado ("Mas e quando você voltar? Acha que vai conseguir arrumar emprego?"). 
A primeira coisa que devemos ter em mente é: não adianta pensar na volta, ela ainda nem aconteceu! E independente do quanto você se preocupe, ou imagine como será, vai ser diferente! Então, o primeiro passo é não pensar nela, ou não se preocupar com ela. Se há um ano atrás você me perguntasse sobre os meus planos para a volta, ou se eu imaginava como seria, acho que a última resposta seria o que está acontecendo no presente momento. Nem no meu maior devaneio imaginei que logo que chegássemos ao Brasil nos mudaríamos de São Paulo para Blumenau!
Pois é, foi isso que aconteceu. Chegamos em SP no dia 15/12/15 e em 01/02/16 estávamos na BR-101, atrás do nosso caminhão de mudança. O período que passamos em sampa foi praticamente para reorganizar as coisas e arrumar nossa mudança. Foi estranho e talvez até por isso a "ficha" da volta demorou a cair. 
É engraçado que logo que você volta muitas vezes olha ao redor e escuta o Léo Jaime cantando "ou, ou, ou nada mudou". Foi assim que me senti em muitos aspectos (exceto quando vi as crianças do meu prédio e filhos de primos e amigos, wow como eles cresceram!), como quando terminamos de colocar todas nossas coisas de volta no nosso antigo apê, também quando conversamos com amigos sobre trabalho, política e outras coisas mais. Saímos do Brasil num ano de eleição, mas nem a presidente mudou! Na verdade, não sei dizer muito bem se as coisas mudaram pouco ou nós mudamos demais. Ok, algumas coisas mudaram bastante, filhos nasceram, pessoas engordaram ou emagreceram, alguns perderam seus empregos ou partiram para algo novo, mas meu sentimento é que a essência mudou pouco. Nós mudamos bastante, nem tanto fisicamente, mas acho que 15 meses e 37 países fizeram algumas transformações em nós e talvez por isso nossa percepção é que por aqui nada mudou...
Não vou dizer que a volta é fácil. Os primeiros dias são ótimos, você revê pessoas queridas, conversa sobre a viagem (o que te faz sentir que ainda está viajando), abraços, happy hour, cervejinhas, Natal, Ano Novo, carnaval, você conta piadas que as pessoas entendem, você come as comidas que estava com saudade (pão de queijoooo!), enfim, você mata a saudade de tudo que te fazia falta na estrada. Mas aí vem a rotina, as pessoas já conhecem suas histórias e não estão mais interessadas no tanto que foi emocionante chegar nas Muralhas da China ou ver as Pirâmides do Egito. Você volta para o senso comum, volta a não ter nada em especial e é nesse ponto que você sente a volta! Você começa a rever suas fotos, você começa a morrer de "inveja"(no bom sentido, tá gente!) de quem está na estrada, você veste a sua mochila só pra senti-la nas suas costas (confesso que chorei quando guardei minha mochila), você não vê a hora de voltar para estrada novamente. Por um lado, existem os planos de retomada da vida, novo emprego (ou a batalha por ele), um lugar para chamar de seu, onde você vai colocar suas fotos (de preferência da viagem!), mas por outro você quer viver de novo tudo aquilo vivido no tempo em que você tirou para si. 
Eu cheguei à conclusão que vivo no eterno dualismo entre o partir e o ficar. No final da viagem  estava cansada e queria parar um tempo em algum lugar, agora que estou parada não vejo a hora de comprar uma Kombi e partir com o Manu por esse mundão sem data para voltar, hahaha! Mas por enquanto o momento é de ficar, então o melhor é trazer (ou pelo menos tentar trazer) para o cotidiano os aprendizados da viagem. 
Vou listar aqui alguns aprendizados que acho que podem ajudar a não cortar os pulsos  a tornar a volta menos difícil: 
  • Observar, olhar o mundo ao redor, se encantar com a luz do sol! Sério, pode parecer uma coisa meio "Poliana", mas é um hábito maravilhoso. Todos os dias acontecem coisas incríveis na nossa vida, mas estamos habituados demais, cansados demais, de "saco cheio"demais para prestar atenção. O exercício é olhar para o local que vivemos como se fossemos estrangeiros.
  • Conversar com estranhos. Isso é fantástico! Puxar um papo no ponto de ônibus, na fila do supermercado, na espera do dentista, simplesmente conversar com alguém que você nunca viu na vida e talvez nunca mais verá é ótimo. É algo corriqueiro quando estamos viajando e que quase nunca fazemos no nosso dia-a-dia. 
  • Hospedar desconhecidos. Nós somos super adeptos ao couchsurfing, hospedamos pessoas antes da viagem e nos hospedamos na casa de muita gente durante a viagem. É como viajar sem sair de casa! Ainda não pudemos receber ninguém casa (problemas logísticos e de infra-estrutura ), mas assim que possível queremos voltar a ter gente em casa. Confiar nas pessoas não é uma tarefa fácil, principalmente por nós brasileiros, mas vai por mim, tem muito mais gente boa no mundo do que gente ruim!
  • Viver com menos! Aqui está um desafio grande, mas passar tanto tempo com a mochila é um ensinamento, percebemos que precisamos de muito pouco para viver. O lance é sempre se perguntar se realmente "preciso disso". Eu notei que mesmo na posse de minhas roupas passei vários dias usando as mesmas, força do hábito! 
  • Não fazer planos para um futuro tão distante (a não ser que sejam planos de viagem, hahaha). Planos são bons, mas não se apegue a coisas que ainda não aconteceram e que estão longe de acontecer. Se você vive muito no futuro acaba criando uma ansiedade grande na vida. Um dia de cada vez, uma coisa de cada vez, e assim vamos. Esse foi um grande exercício que tive que praticar durante a viagem e que agora também tento praticar na vida. Eu sou super ansiosa, daquelas pessoas que mal tomou o café da manhã e já está fazendo planos para o jantar. Durante a viagem tive que aprender a viver um dia de cada vez e agora continuo a praticar, não é fácil, mas vamos lá!

Para quem está viajando ou se preparando para partir, não sofra com a volta, afinal ela vai ser completamente diferente mesmo! E para quem já voltou o processo é de reabilitação MESMO, hehehehe! Se quiserem fazer um grupo de apoio contem comigo, estou super disponível, hahaha! 

Beijos, abraços e muitas viagens na vida de vocês!
Dri