11 de março de 2016

A volta

Talvez a volta seja um dos temas mais recorrentes quando falamos em tirar um período sabático, e que durante o seu período você também vai pensar nela. O mais engraçado é que na maior parte das vezes nem partimos e já estamos pensando em como será a volta. É também uma das primeiras perguntas que respondemos quando dizemos que vamos viajar por tempo prolongado ("Mas e quando você voltar? Acha que vai conseguir arrumar emprego?"). 
A primeira coisa que devemos ter em mente é: não adianta pensar na volta, ela ainda nem aconteceu! E independente do quanto você se preocupe, ou imagine como será, vai ser diferente! Então, o primeiro passo é não pensar nela, ou não se preocupar com ela. Se há um ano atrás você me perguntasse sobre os meus planos para a volta, ou se eu imaginava como seria, acho que a última resposta seria o que está acontecendo no presente momento. Nem no meu maior devaneio imaginei que logo que chegássemos ao Brasil nos mudaríamos de São Paulo para Blumenau!
Pois é, foi isso que aconteceu. Chegamos em SP no dia 15/12/15 e em 01/02/16 estávamos na BR-101, atrás do nosso caminhão de mudança. O período que passamos em sampa foi praticamente para reorganizar as coisas e arrumar nossa mudança. Foi estranho e talvez até por isso a "ficha" da volta demorou a cair. 
É engraçado que logo que você volta muitas vezes olha ao redor e escuta o Léo Jaime cantando "ou, ou, ou nada mudou". Foi assim que me senti em muitos aspectos (exceto quando vi as crianças do meu prédio e filhos de primos e amigos, wow como eles cresceram!), como quando terminamos de colocar todas nossas coisas de volta no nosso antigo apê, também quando conversamos com amigos sobre trabalho, política e outras coisas mais. Saímos do Brasil num ano de eleição, mas nem a presidente mudou! Na verdade, não sei dizer muito bem se as coisas mudaram pouco ou nós mudamos demais. Ok, algumas coisas mudaram bastante, filhos nasceram, pessoas engordaram ou emagreceram, alguns perderam seus empregos ou partiram para algo novo, mas meu sentimento é que a essência mudou pouco. Nós mudamos bastante, nem tanto fisicamente, mas acho que 15 meses e 37 países fizeram algumas transformações em nós e talvez por isso nossa percepção é que por aqui nada mudou...
Não vou dizer que a volta é fácil. Os primeiros dias são ótimos, você revê pessoas queridas, conversa sobre a viagem (o que te faz sentir que ainda está viajando), abraços, happy hour, cervejinhas, Natal, Ano Novo, carnaval, você conta piadas que as pessoas entendem, você come as comidas que estava com saudade (pão de queijoooo!), enfim, você mata a saudade de tudo que te fazia falta na estrada. Mas aí vem a rotina, as pessoas já conhecem suas histórias e não estão mais interessadas no tanto que foi emocionante chegar nas Muralhas da China ou ver as Pirâmides do Egito. Você volta para o senso comum, volta a não ter nada em especial e é nesse ponto que você sente a volta! Você começa a rever suas fotos, você começa a morrer de "inveja"(no bom sentido, tá gente!) de quem está na estrada, você veste a sua mochila só pra senti-la nas suas costas (confesso que chorei quando guardei minha mochila), você não vê a hora de voltar para estrada novamente. Por um lado, existem os planos de retomada da vida, novo emprego (ou a batalha por ele), um lugar para chamar de seu, onde você vai colocar suas fotos (de preferência da viagem!), mas por outro você quer viver de novo tudo aquilo vivido no tempo em que você tirou para si. 
Eu cheguei à conclusão que vivo no eterno dualismo entre o partir e o ficar. No final da viagem  estava cansada e queria parar um tempo em algum lugar, agora que estou parada não vejo a hora de comprar uma Kombi e partir com o Manu por esse mundão sem data para voltar, hahaha! Mas por enquanto o momento é de ficar, então o melhor é trazer (ou pelo menos tentar trazer) para o cotidiano os aprendizados da viagem. 
Vou listar aqui alguns aprendizados que acho que podem ajudar a não cortar os pulsos  a tornar a volta menos difícil: 
  • Observar, olhar o mundo ao redor, se encantar com a luz do sol! Sério, pode parecer uma coisa meio "Poliana", mas é um hábito maravilhoso. Todos os dias acontecem coisas incríveis na nossa vida, mas estamos habituados demais, cansados demais, de "saco cheio"demais para prestar atenção. O exercício é olhar para o local que vivemos como se fossemos estrangeiros.
  • Conversar com estranhos. Isso é fantástico! Puxar um papo no ponto de ônibus, na fila do supermercado, na espera do dentista, simplesmente conversar com alguém que você nunca viu na vida e talvez nunca mais verá é ótimo. É algo corriqueiro quando estamos viajando e que quase nunca fazemos no nosso dia-a-dia. 
  • Hospedar desconhecidos. Nós somos super adeptos ao couchsurfing, hospedamos pessoas antes da viagem e nos hospedamos na casa de muita gente durante a viagem. É como viajar sem sair de casa! Ainda não pudemos receber ninguém casa (problemas logísticos e de infra-estrutura ), mas assim que possível queremos voltar a ter gente em casa. Confiar nas pessoas não é uma tarefa fácil, principalmente por nós brasileiros, mas vai por mim, tem muito mais gente boa no mundo do que gente ruim!
  • Viver com menos! Aqui está um desafio grande, mas passar tanto tempo com a mochila é um ensinamento, percebemos que precisamos de muito pouco para viver. O lance é sempre se perguntar se realmente "preciso disso". Eu notei que mesmo na posse de minhas roupas passei vários dias usando as mesmas, força do hábito! 
  • Não fazer planos para um futuro tão distante (a não ser que sejam planos de viagem, hahaha). Planos são bons, mas não se apegue a coisas que ainda não aconteceram e que estão longe de acontecer. Se você vive muito no futuro acaba criando uma ansiedade grande na vida. Um dia de cada vez, uma coisa de cada vez, e assim vamos. Esse foi um grande exercício que tive que praticar durante a viagem e que agora também tento praticar na vida. Eu sou super ansiosa, daquelas pessoas que mal tomou o café da manhã e já está fazendo planos para o jantar. Durante a viagem tive que aprender a viver um dia de cada vez e agora continuo a praticar, não é fácil, mas vamos lá!

Para quem está viajando ou se preparando para partir, não sofra com a volta, afinal ela vai ser completamente diferente mesmo! E para quem já voltou o processo é de reabilitação MESMO, hehehehe! Se quiserem fazer um grupo de apoio contem comigo, estou super disponível, hahaha! 

Beijos, abraços e muitas viagens na vida de vocês!
Dri

2 comentários:

Unknown disse...

Quando eu voltar vou visitá los em Blumenau para fazer parte deste grupo de apoio ok? Heheheh beijos!

Unknown disse...

Quando eu voltar vou visitá los em Blumenau para fazer parte deste grupo de apoio ok? Heheheh beijos!