31 de março de 2015

Beijing

Chegar em Beijing foi super rápido, literalmente, afinal nós pegamos um trem bala! O lado bom é que é super confortável e claro, rápido. O lado ruim é que é muito acima do nosso orçamento e acabou balançando nossas contas (mas este é um assunto para capítulos posteriores). Só que essa foi nossa única opção, afinal, ainda estávamos sofrendo com o final do ano novo chinês (nunca vi um ano novo durar tanto!) e todos os trens estavam lotados, com isso, tivemos algumas horas de mochileiros na primeira classe (pelo preço e pelo conforto essa era a viagem que deveria durar 35 horas!).
Chegamos em Beijing já eram quase 23:00 e o metrô estava fechado. Nosso anfitrião (aqui conseguimos um couchsurfing) tinha nos alertado que o taxi seria caro, mas que um hotel na região sairia ainda mais caro que o taxi. Bom, resolvemos tentar um hotel, pois estávamos um pouco receosos com relação aos taxistas de Beijing. Lemos muita coisa a respeito e as referências não eram as melhores. Mas não fomos bem-sucedidos na busca por um hotel: ou era muito caro, ou não nos aceitavam. Nos restou pegar um taxi, mas pedimos para o taxista conversar com nosso anfitrião que ainda negociou o preço da corrida pra gente. Antes de partir, tivemos que esperar juntar mais pessoas para o preço da corrida ser melhor. Lá fomos nós, com o coração na mão (pra não falar outra coisa) e rezando para chegarmos sãos e salvos na casa do Bin (nosso querido anfitrião). Só que além de muito longe da estação, o caminho passava por estradas com nada em volta, aquele tipo de lugar perfeito para assaltar dois mochileiros e abandona-los no meio caminho. Nessas horas a única coisa que podemos fazer é confiar que tudo vai dar certo, e deu mesmo! Chegamos à casa do Bin, que mesmo sendo tarde da noite ainda estava nos esperando.
O Bin é um cara fantástico, dessas pessoas que com pouco tempo de conversa parece que já é seu amigo há anos! Na casa dele você se sente em casa, e ainda com direito a cerveja na geladeira (oops, desculpa revelar o segredo, Bin!). Ele nos deu várias dicas da cidade e ainda escreveu em chinês alguns pratos para pedirmos no restaurante perto da casa dele.
No nosso primeiro dia em Beijing, exploramos uma das áreas mais antigas da cidade: Dongcheng North. Fica próximo à Cidade Proibida, mais ou menos ao norte. O bairro possui alguns lagos, e em volta dos lagos você encontra uma infinidade de cafés, restaurantes e barzinhos. O legal do bairro é se deixar perder pelas ruazinhas sinuosas (chamadas hutong), caminhar meio sem rumo, observando as casas, os moradores, as praças... 
De lá fomos em direção ao Parque Olímpico, já no final do dia para ver o Ninho do Pássaro e o Cubo d'água iluminados. É demais! Os dois edifícios são muito lindos e impressionantes! A iluminação é maravilhosa e você pode circular livremente por fora, mas para entrar nos edifícios é pago. Existem algumas visitas guiadas e os passeios podem ser comprados no próprio Parque Olímpico. Nós apreciamos a vista do lado de fora, e mesmo com o frio de zero grau (sensação térmica de -10 graus) valeu a pena!
No dia seguinte, tínhamos combinado com um casal de ucranianos (a menina tinha se hospedado na casa do Bin) para irmos juntos às muralhas. O Bin nos deu todas as indicações (inclusive ele tem um caderno com o mapa desenhado e as instruções em chinês para se chegar até lá utilizando transporte público). Mas acabou que o casal se atrasou e ficou tarde para nós (nós queríamos visitar as muralhas com tempo), então resolvemos deixar as muralhas para o dia seguinte e ir até a Cidade Proibida.
Bem, fomos até lá para descobrir que às segundas a Cidade Proibida fecha! Ok, acontece... Andamos em volta da cidade em busca do que visitar e acabamos indo para na Praça da Paz Celestial (lembra do episódio do carinha que parou o tanque de guerra? Pois é, essa mesma!). O dia estava lindo, mas fazia um frio do cão. A praça é enorme, marcada pela arquitetura soviética e é bem austera. Você se sente vigiado o tempo todo, além dos policiais existem câmeras por toda parte. É na praça que estão os principias prédios do governo e também o Mausoléu do Mao Tse Tung, mas este estava fechado devido a um evento, que não sabemos muito bem qual era, mas que parecia importante.
Da praça continuamos a nossa caminhada e descobrimos a Chinatown original! Brincadeiras a parte, descobrimos a rua em Beijing onde você encontra os artigos "oliginais"(tipo a matriz da 25 de Março) e mais as comidas "exóticas"como os espetinhos de escorpião, aranha, etc. Nós não provamos por um simples motivo: percebemos que os espetinhos são para os turistas e não para os locais. Não vimos nenhum chinês se deliciando com escorpiões, então decidimos gastar nosso dinheirinho com comidas que os locais comem. 
No terceiro dia, fomos para a grande atração: A Grande Muralha da China! E graças ao caderno do Bin, fizemos todo o trajeto via transporte público e ainda barganhamos o preço do taxi. Ao contrário do que pensávamos, a muralha não é um trecho único. Existem vários trechos no norte do país e em alguns pontos os próprios acidentes geográficos fazem o papel de muralha. Alguns trechos estão restaurados, mas outros não e são conhecidos como os trechos "selvagens". Nós visitamos o trecho de Mutyanu, que não é o mais popular, mas se você estiver em Beijing nós recomendamos este trecho. É menos cheio que outros, está muito bem restaurado e tem infra-estrutura para todo bolso. Nós subimos a pé, mas você pode ir de teleférico, bondinho e descer de tobogã (ou carrinho de rolimã). Apesar do cansaço, quando você chega lá em cima é inacreditável! Simplesmente incrível! Mesmo sabendo que não é contínuo, a impressão que se tem é que as muralhas não acabam nunca. E como esse não é o trecho mais turístico, muitas vezes tínhamos a impressão de estarmos sozinhos naquela imensidão. É surreal! Ainda estamos boquiabertos (muitas vezes a ficha não cai, é meio difícil acreditar).
Pra fechar nosso dia, o Bin preparou um Hot Pot, que nada mais é que uma panela com água fervente, onde vamos acrescentando os ingredientes (verduras, cogumelos, carnes) e comendo. Simples e delicioso! A versão chinesa do fondue!
No nosso quarto dia, conseguimos, enfim, visitar a Cidade Proibida. É muito bonita, e sem dúvida vale a visita, mas devemos dizer que é cansativa também! A área é enorme e lá pelas tantas começa a ficar um pouco repetitiva. No final você chega aos jardins que são muito legais, mas como você já está cansado acaba perdendo um pouco. A dica é: se estiver cansado passe mais rápido pelos prédios e vá para o jardim que vale a visita!
Nesse dia também tivemos um jantar especial e internacional! O Bin nos convidou para conhecer um restaurante de comida mulçumana chinesa. Juntamente, estava um casal de alemães que tinham acabado de chegar na casa dele (eles nos substituiriam como hóspedes), uma polonesa com a mãe (que também fez contato pelo couchsurfing) e mais uma americana, que fala alemão, russo, mandarim, mas não fala inglês! O jantar foi uma delícia, além da comida maravilhosa a conversa estava super interessante, mais um ponto para o Bin (queremos que ele ganhe como melhor anfitrião de Beijing, hehe!).
Assim fechamos nossa visita em Beijing! Foram 5 dias incríveis e com certeza ficar na casa do Bin fez toda diferença! Muito da viagem são as pessoas que encontramos pelo caminho, pessoas de lugares tão diferentes mas que compartilham conosco pensamentos e filosofias de vida! Pessoas que fazem de nossas passagens mais que passagens, mas lugares que são especiais. O mundo está cheio de pessoas legais e cada vez mais ficamos felizes em conhece-las!

A caminho de Beijing, puro luxo essa viagem de trem!

Trem bala!

A região dos lagos


As Hutongs de Beijing


Praças para todas as idades!

Ah, o ninho do pássaro!

A Dri vestida para combinar com o cubo d'água


Tentamos mostrar os dois, mas não deu muito certo

Nós e o Mao ao fundo

Praça da Paz Celestial

Os espetinhos de escorpião

Encontramos a matriz da 25 de Março!

A muralha lá no fundo

Opção mais barata para subir até a muralha!



Um brinde! Socializando na muralha!




E para o jantar: Hot Pot! Obrigado, Bin!

A Cidade Proibida

Muito Grande, muito bonita...

... e muito, mas muito repetitiva.

Nosso jantar internacional

Bin e seus hóspedes!

29 de março de 2015

Xian e os Guerreiros de Terracota

Escolhemos Xian como um de nossos destinos na China porque queríamos ver os Guerreiros de Terracota e é aqui que eles vivem.
Chegamos tarde da noite, exaustos depois das 35 horas de viagem, debaixo de uma garoa e um frio de 2oC. Mesmo tendo o endereço do nosso hotel (na verdade ficamos hospedados em um apartamento) em chinês ainda foi difícil pro taxista entender onde queríamos ir. Tivemos um pouco de dificuldade para encontrar nosso apartamento, mas uma boa alma apareceu para nos ajudar (acho que nossas mães rezam tanto que os anjos da guarda ficam de plantão!). Enfim, chegamos no nosso quarto, loucos para tomar um banho, comer e dormir.
Como tínhamos 3 dias na cidade, deixamos para ver os Guerreiros no segundo dia. E aproveitamos a falta de compromisso para dormir até tarde e andar pela cidade. Mas antes de sairmos batendo pernas por aí, ainda tínhamos que comprar as passagens de trem até Beijing. Mais uma vez, tivemos que utilizar nossa melhor mímica para tentar a comunicação. A sorte é que tinha um escritório da companhia de trens bem do lado do nosso apartamento, e também contamos com a ajuda dos donos do apartamento para comprar os tickets. Mais uma vez os chineses estão nos surpreendendo. Antes de virmos para cá ouvimos várias pessoas reclamarem que os chineses são grossos, que tratam mal os estrangeiros, que nem tentam se comunicar a não ser em chinês... Conosco tem acontecido exatamente ao contrário, mesmo com a dificuldade da língua temos encontrado pessoas bem dispostas a ajudar, nem que seja pela mímica! Infelizmente, os trens estão bem lotados (e a gente achando que tinha se livrado do Tet, só que ano novo chinês ainda está em fase de comemoração!), e a única opção era o trem rápido, que extrapola todo nosso orçamento. Mas a moça dos tickets foi tão prestativa que nos disse para voltar no dia seguinte (caso tivesse alguma desistência), pois os tickets dos trens rápidos têm maior disponibilidade.
Depois da novela para conseguir os tickets (que no final não conseguimos) fomos passear pela cidade. Ao contrário do que pensávamos, a cidade é enorme (aliás, qualquer cidadezinha na China tem 1 milhão de habitantes)! E no centro tem a cidade murada. Xian é super antiga e era o ponto final da rota da seda. As muralhas estão muito bem preservadas, mas internamente são poucos ou quase nenhum vestígio da cidade antiga. Ao redor das muralhas existe um parque linear muito bonito, um belo projeto de urbanismo. Basicamente existe um curso d’água (que antigamente deveria servir como fosso das muralhas) mas este curso d’água tem as dimensões de um rio, e entre o curso d’água e as muralhas tem o parque linear. Dentro das muralhas existem alguns prédios históricos, como a torre do sino e a torre dos tambores, além do interessantíssimo quarteirão mulçumano. O quarteirão mulçumano é uma mistura de feira de comida com galerias e lojinhas. São várias barraquinhas de comidas típicas, pequenos restaurantes, e claro muitas lojinhas! Os mais diversos aromas pairam no ar, e como estava muito frio, o calor das comidas condensa no ar criando uma atmosfera de fumaça com vapor de água!
Deixamos a principal atração de Xian para o segundo dia: os Guerreiros de Terracota. A proprietária do nosso flat nos passou as indicações para irmos até o local (que é afastado da cidade, mais ou menos 1 hora de ônibus) utilizando transporte público. Não há a menor necessidade de contratar um tour especializado (a não ser que você prefira, claro). O ônibus sai da estação de trem, é um ônibus do governo e custa 7,00 Yuans por pessoa (a viagem de ida, a volta custa 8,00 Yuans, em Março de 2015 esses valores equivalem a pouco mais de US$ 1,00).
O local é enorme, e os áudio-guides  ou guias estão disponíveis na entrada. Nós não contratamos nenhum e nem outro, e talvez seja até interessante para entender melhor a história, mas está tudo muito bem explicado. Os guerreiros estão separados em 3 locais de escavação, chamados Pit. O Pit 1 é o maior de todos, seguido pelo Pit 2 e o Pit 3 é o menor. Uma ótima dica é deixar o Pit 1 para o final, começando pelo Pit 3 ou Pit 2. De fato, é uma visita incrível! Não existe um guerreiro igual ao outro, nem mesmo os cavalos são iguais. A perfeição das esculturas é impressionante! Sem dúvida, foi um dos pontos altos da nossa viagem!
Na volta, decidimos ir a pé da estação de trem até nosso flat, a caminhada até não era pequena, mas estava um trânsito tão ruim e queríamos aproveitar também para ver um pouco mais da cidade. Foi uma ótima decisão! Caminhamos um tempão pelo parque linear, ao redor das muralhas e pudemos observar o quanto é utilizado (isso porque estamos no inverno, no verão desse ser uma delícia!). Grupos de idosos dançando, pessoas jogando badminton, cantores, pessoas fazendo caminhada, kung fu, enfim, tudo que você puder imaginar e mais um pouco. Além disso, o parque é lindo durante a noite. A iluminação tanto do parque, quanto da cidade é incrível! Nós gostamos muito de Xian, não só pelos Guerreiros, mas a cidade também é muito legal.

No último dia, aproveitamos para fazer compras! Mais uma vez a proprietária do flat foi incrível e nos indicou um Outlet muito bom. Na verdade nossas compras foram bem modestas, complementamos nossas roupas de frio, e comprovamos que nem só de falsificações vive a China. Você também encontra produtos bons e baratos (claro que mais caros que os falsetas), só precisa saber o lugar certo para comprar. Na ida até o Outlet fomos, mais uma vez, surpreendidos pela receptividade dos chineses. Nós pegamos um ônibus urbano do flat até o Outlet, não tínhamos dinheiro trocado (você precisa ter a quantidade exata para pagar ônibus) e o motorista logo indicou para passarmos (sem pagar). Nós ficamos constrangidos e tentamos trocar nosso dinheiro com os passageiros. Tentamos com uma moça, que imediatamente utilizou seu cartão vale-transporte para pagar nossa passagem e não aceitou nosso dinheiro! A moça pagou nossa passagem, pura gentileza! Cada vez mais comprovamos que muitos dos estereótipos que temos dos lugares são injustos! Se você realmente quer saber como é um lugar vá lá e confira de perto, tenha sua experiência e comprove com seus próprios olhos. Antes de virmos até aqui, ouvimos muitas coisas sobre a China e os chineses, e a maioria delas foram negativas. Até o momento, tanto a China quanto os chineses têm nos surpreendido bastante e as surpresas têm sido as mais positivas possíveis, muito mais que imaginávamos!
As muralhas de Xian

O quarteirão muçulmano

Pit 3: o início!

Pit 2

Os guerreiros de pertinho

Atenção para os detalhes

Acho que esse moço quer falar alguma coisa!

Pit 3: isso é só o começo! Ainda não desenterraram nem um
terço dos guerreiros



Aquela placa indica onde foram cavar um poço e encontraram
os primeiros vestígios dos guerreiros




As faces de cada guerreiro foram moldadas com base em 8
etnias chinesas representadas por essas faces aí



O parque linear em volta das muralhas

28 de março de 2015

Nossa longa viagem de trem pela China

Nossa travessia do Vietnã para China não podia ter sido melhor. O trem era muito confortável, ficamos com uma cabina só para nós dois, a passagem pela temível imigração da China foi super tranquila (o procedimento foi lento, entre a saída do Vietnã e voltarmos para o trem dentro da China, demorou 3 horas, mas sem nenhuma complicação) enfim, fizemos uma ótima viagem. Nós decidimos fazer 3 paradas na China (além de Hong Kong): Xian, Beijing e Shanghai. Mas o nosso trem, vindo do Vietnã, só ia até Nanning, uma cidade no sul da China. Chegamos em Nanning e fomos direto na bilheteria tentar comprar os tickets para Xian. A comunicação na China é algo muito difícil, mas muito mesmo! Ninguém fala inglês, as letras não passam de desenhos para nós e não tem nada escrito em inglês. Felizmente um dos guichês tinha atendimento em inglês, mas um inglês bem mais ou menos. A notícia ruim é que não tinha tickets para o mesmo dia, só para o dia seguinte e ainda assim era na categoria “em pé”. Lugares só estavam disponíveis para daí dois dias. Bom, saímos para pensar e tentar uma outra alternativa. O problema é que não tinha alternativa. Com a dificuldade da língua, não conseguíamos descobrir se tinha alguma rodoviária, ou qualquer outro meio para chegarmos em Xian. No final das contas, decidimos encarar a categoria “em pé” e compramos os tickets para o dia seguinte.
Nós não tínhamos a mínima ideia do que nos esperava e nossa perspectiva é que fosse um vagão vazio (como um compartimento de cargas) com todo mundo amontoado dentro e nos restaria sentar nas mochilas. Na realidade, o vagão tem lugares para sentar e é o mesmo da categoria mais barata “hard seat”. Ainda meio perdidos, sentamos nos assentos vazios mas depois de duas horas de viagem os donos dos lugares apareceram. Utilizamos dessa estratégia até os lugares serem preenchidos, mas já economizamos uma pequena parte da viagem. Você pode tentar um upgrade de categoria, basta ter algum lugar disponível. Nós tentamos, mas o trem estava lotado.
Digamos que nessa viagem nós sentimos a China na pele! A categoria “hard seat” é onde realmente viajam os chineses, pois a maioria das pessoas não têm dinheiro para ir nas classes melhores e menos ainda nos trens rápidos. É a “geral” dos trens na China! Sendo assim, a convivência é intensa e as pessoas se socializam bastante. É uma categoria super interativa! As pessoas também são solidárias umas com as outras, e muitas vezes nos ofereciam seus lugares para sentarmos ao menos um pouquinho, outras vezes se apertavam nos bancos para nos dar um lugarzinho para sentar. Como éramos os únicos estrangeiros no trem, as pessoas ficavam muito curiosas a nosso respeito, tentavam conversar com a gente em chinês como se fosse a coisa mais normal do mundo, pensando bem, para eles é normal, afinal são bilhões de pessoas que falam chinês. Provavelmente também, as pessoas que estavam no nosso vagão tinham pouco ou quase nenhum contato com estrangeiros, o que nos torna ainda mais exóticos!
A medida que as horas passam a viagem vai ficando mais interessante (mais cansativa também). Lá pelas tantas, um menininho estava ensinando o Manu contar até 10 em chinês, um casal estava tentando descobrir de onde éramos, outros falavam comigo um pouco em chinês e algo que deveria ser inglês.
De repente, você olha ao redor e se formou uma roda animadíssima de conversa, com pessoas rindo em uma língua que você não tem nem ideia. Crianças passam de um lado para o outro, pulam, brincam. Os estreitos corredores são divididos entre os passageiros que não têm onde sentar, os vendedores de comida e das mais variadas tranqueiras (até lembrei do “alicate mondial, na minha mão é 5 reais”, que tanto ouvimos nos trens de São Paulo) e por aí vai.
Passam algumas horas e o cansaço vai tomando conta das pessoas. Nós mesmos tentamos encontrar algum cantinho, a Dri ainda conseguiu a beirada de um banco, mas o Manu dormiu sentado no chão do corredor por um tempinho.
Os chineses são muito curiosos também. Sempre estão bisbilhotando o que você está lendo, ou olhando no seu celular. A Dri estava lendo um livro e sempre tinha alguém no “cangote” curioso para saber o que ela estava lendo, mesmo que as letras não fizessem o menor sentido. Eles também ficaram maravilhados quando nós compramos comidas e comemos com hashi! Tinha uma rodinha só esperando que a gente não conseguisse e quase não acreditaram na nossa habilidade (mal sabem eles que nós já estamos há 5 meses na Ásia e temos um monte de restaurantes japoneses no Brasil)!

Ao todo foram quase 35 horas de viagem. Foi bem cansativo e no final estávamos destruídos. Por outro lado, foi bem melhor do que imaginávamos e achamos uma experiência bem interessante (claro que para uma vigem mais curta). No fim das contas, passamos mais tempo sentados que em pé e podemos dizer que conhecemos o âmago da sociedade chinesa! 

Nessa hora o trem estava vazio

Completando umas 30 horas!