29 de novembro de 2014

Nossa travessia da Índia para o Nepal

Sair de Varanasi e chegar até Pokhara, no Nepal, foi uma saga! Saímos de Varanasi em mais um trem noturno rumo a Gorakhpur, ainda na Índia. Mais uma vez não conseguimos lugar numa classe melhor, então só nos restava viajar na sleeper class mesmo. Só que dessa vez a experiência foi muito diferente. Para começar, não tinha quase nenhum não indiano na estação. Éramos somente nós dois, 3 polonesas (que conhecemos quando compramos as passagens) e três meninos (dois de Andorra e um australiano). Quando encontramos as polonesas estávamos torcendo para elas estarem na mesma cabine que a gente, mas, infelizmente, elas não estavam. Pra variar um pouquinho, o trem que estava marcado como "no horário" chegou atrasado. Ok, coisas da Índia. 
Chegamos na nossa cabine, que era para 8 pessoas, e tinham umas 20 pessoas, sendo que duas delas estavam em uma de nossas camas. Bom, nós pedimos para que elas se retirassem, afinal alguém ali não tinha pago a passagem e não éramos nós.  Além disso, era a primeira cabine (para entender melhor como funcionam os trens e as cabinas na Índia, veja esse post aqui) isso significa que estávamos perto da porta de entrada do trem e também perto do banheiro. Nos organizamos em nossas camas, juntamente com nossas mochilas e olhamos um para o outro com a sensação de que seria uma noite longa. A cabine continuava cheia, e as pessoas se amontoavam nas camas e no chão. Alguns iam em pé mesmo, no corredor e próximos à porta de saída do trem. Como a porta ficou aberta o tempo todo, entrava um ar bem frio e cada vez que o trem diminuía de velocidade todo o cheiro do banheiro vinha junto com a corrente de ar. Como se não bastasse, o indiano que estava embaixo da cama da Dri ficou peidando a noite inteira, além do cheiro de chulé e dos roncos. É, não foi a melhor viagem de trem da nossa vida, mas chegamos em Gorakhpur! 
Lá encontramos nossos companheiros de viagem e seguimos em busca do ônibus que nos levaria até a cidade da fronteira. Andamos um trecho meio (ou completamente) perdidos tentando encontrar a parada de ônibus e quando fomos perguntar para um policial, parou um ônibus que iria para a cidade da fronteira. Lá fomos nós! Claro que o busão era o típico da Índia: caindo aos pedaços e cheio de gente, mas tudo bem, eram só 3 horinhas de viagem! Depois de sacolejar por 3 horas no busão, enfim chegamos à fronteira. 
Sunauli é uma cidade bem feia, bem estilo Ínida: suja, cheia de gente, confusa e fedida. A diferença é que tinha uma fila quilométrica de caminhões esperando para atravessar a fronteira. Nós descemos do ônibus e seguimos a pé para tentar chegar no Nepal. Estávamos nos sentindo os próprios refugiados tentando sair de um país para outro, ou então mexicanos tentando chegar nos Estados Unidos. A cena era bem surreal, palavras não são suficientes para explicar e ficamos receosos de fotografar (fronteiras sempre são pontos delicados e às vezes uma foto pode gerar um problema). Seguimos em fila no meio dos caminhões, motos, carros, tuk tuks, vendo com esperança que o portal da fronteira estava próximo, quando ouvimos um indiano gritar e nos mandar ir primeiro no posto policial da Índia para depois entrar no Nepal. Sabe quando você não bota muita fé, pois é, estávamos meio desconfiados, mas também não tínhamos muito o que fazer. Entregamos os passaportes (com o coração apertado, o lugar era bem estranho) e recebemos os carimbos de saída da Índia. Claro, para entrar num país primeiro tem que sair do outro! 
Seguimos nossa caminhada, agora o Nepal estava bem pertinho! Passamos pela imigração, pegamos nossos vistos e entramos no Nepal (todos comemoram!). Despedimos de nossos amigos e fomos atrás do ônibus que nos levaria até Pokhara. Pesquisamos alguns preços e decidimos andar mais um pouco para tentar uma oferta melhor. Andamos por uma estrada procurando a rodoviária e acabamos num rickshaw que teoricamente nos levaria até lá. No final, ele nos deixou numa agência de turismo, e o preço do ônibus era o mesmo que já tínhamos pesquisado, resolvemos comprar logo as passagens e a vantagem é que saímos com dinheiro do Nepal e um hotel reservado em Pokhara. 
Nosso ônibus era local, e mais uma vez a cena era surreal. Sabe quando você não acredita que está acontecendo? Pois é, era meio por aí... A Dri olhou a cena ao redor e caiu na risada (talvez de nervoso!)! Nessas horas (e em todas as horas) rir é sempre o melhor remédio! Como diz a Dri: segura na mão de Deus e vai. E assim fomos, sacolejando por mais 8 horas de viagem de pura emoção. Detalhe: ao som do melhor da música nepalesa (sim, o motorista fazia questão de colocar o som alto)! O outro pequeno detalhe é que estávamos sem comer, a nossa única refeição do dia foi um pacote de bolachas enquanto esperávamos o carimbo de saída da Índia. Pra não dizer que não comemos nada durante todo o caminho até Pokhara, compramos umas mexericas e uma samosa (a samosa parece um pastelzinho em forma de triângulo e é muito comum na Índia e no Nepal) na parada de beira de estrada. As horas pareciam eternas dentro do busão, mas como no final tudo dá certo, chegamos (não sei se muito sãos), mas salvos em Pokhara! E para nossa felicidade encontramos carne e cerveja, uhu! Depois de um dia tão longo a gente bem que estava merecendo! 

Sacolejando no busão a caminho da fronteira!
Entrando no Nepal (todos comemoram!)

Nosso merecido jantar! Amamos o Nepal!

26 de novembro de 2014

Pagando as contas: Índia

Como colocamos em nossos posts referentes à Índia, manter qualquer coisa em ordem na Índia é um grande desafio, e acreditamos que nossas contas não tenham passado sem maiores consequências.  Mas estamos aqui para mostrar essas e outras dificuldades e também fazer as devidas ponderações quanto a cada caso. Então vamos a isto:
Nosso budget total previsto para a Índia era de US$562,00, mas tivemos um gasto total realizado de US$996,45. Um gasto 77,30% acima do previsto!!! Terrível não?! Pois é... Mas nossas contas não são como a Índia, e portanto, temos controle total sobre elas. Assim vamos às explicações de como chegamos a estes números.

A linha de gastos realizados (azul),
perigosamente se aproxima do planejado (vermelho)

Nossa previsão era de que gastaríamos uma média de US$41,00/dia na maioria dos dias, e US$10,00/dia em Rishkesh quando ficamos no Ashram (veja o post sobre Rishkesh para entender o que se passou). Com isso, nossa média diária prevista para a Índia era de US$29,59, mas acabamos com uma média de US$52,44.

Nossos gastos dia a dia
(entre os dias 03 e 10, estão as contas de Rishkesh,
com a "doação" dos 7 dias feita no dia 03)

Caso tivéssemos considerado os mesmos US$41,00/dia para os dias em Rishkesh, os nossos gastos teriam ultrapassado as previsões em 27,91% e nossas contas já estariam “bem menos pior” certo? Aparentemente nossas previsões eram ousadas demais, certo? Não responda ainda, pois ainda existem mais dois pontos importantes e que impactaram muito as nossas contas.

 Margem entre planejado e realizado despencou 2 pontos percentuais
Considerando a margem de erro, podemos ter ganhado na mega-sena

Durante nossa passagem pela Índia, pagamos por 4 passagens aéreas futuras (2 passagens para cada um de nós) a saber: Um trecho de Kathmandu no Nepal para Delhi na Índia, e outro trecho entre Cingapura e Jakarta, na Indonésia. Esses dois trechos nos custaram respectivamente US$189,36, e US$150,99, num total de US$340,35. O primeiro trecho foi comprado por razões de segurança, simplesmente. Nosso próximo voo da viagem de volta ao mundo, já adquirida junto à aliança One World, sai de Delhi em direção a Kuala Lumpur, portanto depois do Nepal ainda temos de voltar a Delhi, e pretendíamos faze-lo por terra pois sairia mais em conta, mas depois de percorrer a Índia, vimos que os meios de transporte podem ser ainda menos confiáveis do que esperávamos (falamos aqui em termos de risco à vida no caso de ônibus ou vans, e de cumprimento de horários para os casos dos trens), o que nos fez decidir gastar parte das nossas economias feitas anteriormente nas passagens de avião, pois era para isso que havíamos economizado na Austrália e no Japão. Já o segundo trecho, foi a forma que escolhemos para ir de Cingapura para a Índonésia, e é um custo inevitável, e que diz respeito a trechos de viagem futuros, mas que por este ser apenas um controle de fluxo de caixa, acabou por incidir junto aos dia em que estávamos na Índia.

A alta representatividade dos transportes,
refletem as compras das passagens aéreas


Assim, caso subtraíssemos os gastos com as passagens aéreas das contas da Índia, chegaríamos a um total de US$656,10 (ou US$34,53 por dia), já mais próximos de nossa previsão inicial mas ainda com gastos 16,74% superiores a estes. No entanto, se comparado a uma previsão mais conservadora de US$41,00 por dia mesmo para os dias no ashram em Rishkesh, o que já é um orçamento pra lá de baixo mesmo entre os mochileiros, estaríamos falando de uma economia da ordem de 15,78%!!!!
Nessas horas, nos lembramos muito do que já vimos no nosso meio profissional (e aparentemente, agora político também). Quando as contas não batem com o previsto, ou se tornam piores, muitos acabam mexendo no planejamento para que as contas não fiquem parecendo tão ruins, deixando estas mais fáceis de serem justificadas. Não faremos isto, que em nossa opinião é uma das piores práticas adotadas em nosso mercado no Brasil. Em vez disso, manteremos fixa a nossa linha base de gastos planejada e manteremos registradas as justificativas para o desempenho alcançado. Simples assim (alguns dirão: “simples por que no seu caso você é o seu próprio cliente” mas essa é a forma correta de se controlar suas contas, gostemos ou não).
Veja como ficariam mais bonitos os mesmos gráficos, utilizado a prática comum no mercado da construção civil, e também no planalto central, desconsiderando as passagens aéreas e considerando um  gasto de US$41,00/ dia em Rishkesh:

Nossos gastos acumulada estariam paralelos ao planejado

Gastos diários sem os picos representados pela compras das passagens aéreas,
e a linha do planejamento uniforme em US$41,00/ dia

Nossa margem estaria praticamente estabilizada, com levem ganho de 0,13%

Os gastos com hospedagem e alimentação seriam mais representativos que o transporte

Vale ainda apontarmos outro item menos impactante, mas que gostaríamos de ressaltar. Diz respeito às práticas de Couchsurfing na Índia. Nós já não considerávamos esta uma opção de hospedagem para a Índia, mas ao fazermos algumas tentativas para ver o que aconteceria, nos deparamos com uma situação diferente do que temos tido no restante do mundo. Todos os usuários de Couchsurfing da Índia, dos quais recebemos convites, tinham “entre-linhas”. Todos, sem exceção, apresentavam-se como interessados em conhecer pessoas de outros países e partilhar experiências e que nos levariam a certos pontos turísticos, e parques, etc. Até aí, nada demais. É o que se espera de um couchsurfer. No entanto, quando se falava sobre hospedagem, o assunto mudava. Ninguém poderia nos receber em casa, mas poderíamos ficar num hotel, próximo que em geral dizem ser de um familiar (coisa da qual duvido muito), e você teria que pagar por isso. Enfim... É GOLPE. Não caia nessa. Escolha o seu hotel, e faça por sua conta. O que acontece é que esse pessoal vai te levar em lugares que lhes pagarão uma porcentagem daquilo que você consumir, e o hotel entra no pacote sem você saber. Faça as coisas por sua conta. Não conte com a ajuda de terceiros. Infelizmente. O Couchsurfing assim como outros instrumentos de interação social (como uma conversa no bar, por exemplo) estão completamente deturpados na Índia, e tudo tem um só fim: levar um pouco do seu suado dinheirinho sem que você se dê conta.

Ainda se tratando de dinheiro, devemos destacar a questão dos tuk tuks. Isto mereceria um post exclusivo, mas para economizar vai neste mesmo. Na Índia, você perceberá que qualquer frase é sempre precedida pelas perguntas: “Tuk tuk? Very cheap! Where do you wanna go?!” Todas na sequencia, em sem pausa para respiração. A oferta de tuk tuks na Índia é imensa, e isso é nítido nas ruas. Os motoristas se acotovelam em cada espaço público a procura de uma corrida. Portanto, se podemos dar uma dica, é que faça esse excesso de oferta trabalhar para você. Na Índia nada tem preço certo, e tudo depende de negociação. E os tuk tuks são aparentemente o mercado mais concorrido da Índia. Negocie, barganhe até o motorista ficar completamente contrariado, e se dizer insultado pelo preço que você oferece. Quando ele estiver quase concordando, vire as costas e pergunte a outro motorista, se pode lhe levar pelo preço que você estava negociando. É cansativo, mas divertido, e às vezes os motoristas saem na mão disputando a sua corrida. Enfim... As coisas na Índia são assim. Uma relação de preço que encontramos para balizar nossas negociações era de 10 rúpias por km. Já é um bom preço, se conseguíamos menos que isso, melhor para nós...

25 de novembro de 2014

E afinal, o que achamos da Índia?


A Índia é muito grande, e em 20 dias rodamos apenas o que chamamos de essencial (básico) do norte. Ficou muita coisa para trás, e sabemos que 20 dias é pouco tempo para entender totalmente um país e uma cultura. Por outro lado, vimos e visitamos muitas coisas nesses dias e no final parecia que já estávamos na Índia há muitos anos! O nosso mapa de viagem ficou assim:


Definitivamente, a Índia não é para qualquer um. Ela é intensa, é cheia, é cansativa, é surreal! É completamente diferente de tudo que você já tenha visto ou vivido. Você vive muitas coisas em pouco tempo, mas no final a Índia te cansa. É um lugar controverso, que mistura a tradição de uma cultura milenar, com a miséria nas ruas. É difícil ver tanta gente passando fome, tanta gente vivendo em meio ao caos. A sujeira e o mal cheiro predominam na Índia, pelo menos nos lugares que visitamos.
Por outro lado, você se depara com uma paisagem muito bonita e muito distinta: de montanhas nevadas à praia, de rios ao deserto. Além da paisagem, a arquitetura antiga dos palácios, templos, fortes, é algo de cair o queixo de tão perfeita, precisa, rica e tão à frente do tempo. Nós nos perguntamos o tempo todo como é possível que a mesma sociedade que construiu o Taj Mahal hoje não consegue fazer duas paredes alinhadas, mas até agora não encontramos a resposta. São os contrastes que você vivencia a todo momento estando na Índia.
Uma coisa que nos deixou muito chateados, foi o fato de não conseguirmos uma proximidade maior com os indianos. Infelizmente, não sentimos que poderíamos ter uma abertura para conversa, trocar uma ideia, entender melhor da cultura, sem cair em algum golpe. Ficamos alertas o tempo inteiro, e só dávamos abertura para as pessoas quando sabíamos que aquilo não ia acabar em alguma venda ou passeio turístico. Pode talvez não ser a melhor opção, mas foi a maneira que encontramos para nos proteger e evitar que nossa viagem acabasse em roubadas. Para tentar conhecer um pouco melhor das pessoas, aproveitávamos oportunidades em que sabíamos que a pessoa não queria nada em troca, apenas conversar mesmo.
Apesar de ter muitos golpes, e de você ter que ficar alerta o tempo todo para não cair neles, não nos sentimos inseguros. Em nenhum momento sentimos que poderíamos ser assaltados à mão armada, por exemplo. Com relação à isso não vimos problemas e não nos pareceu que poderia acontecer. Claro, deve-se sempre tomar o cuidado básico, ficar de olho nas coisas, trancar as malas (mesmo nos hotéis),  tomar cuidado com as malas nos trens (os roubos são frequentes) e andar sempre de olho nas mochilas (mas isso fazemos em todo lugar do mundo, até no Japão!).
Para as mulheres, é importante sim tomar cuidado. É gritante a quantidade de homens em relação à de mulheres. Não passamos por nenhuma situação desconfortável, e conhecemos muitas mulheres que estavam viajando sozinhas pela Índia, mas sem dúvida o cuidado deve ser reforçado. É importante prestar atenção com o que vestir. Basicamente, não mostre muito o corpo, (ou mostre o mínimo possível) evite blusas de alcinha e decotes. Prefira andar de calça ou saia longa, ou então calças tipo pescador. Seja discreta! Nós, ocidentais, já nos destacamos o suficiente! Ah, os homens encaram muito, então tente sempre desviar o olhar e não encare de volta.
Algumas coisas são muito engraçadas na Índia, como por exemplo, o quanto nós ocidentais chamamos a atenção. É muito comum as pessoas te pedirem pra tirar uma foto com você. Sério mesmo! Se você está carente, venha para Índia que aqui várias pessoas vão querer uma foto ao seu lado. Era quase como celebridades, só faltava pedirem um autógrafo. Muitas vezes, os pais colocavam o filho pequeno pra tirar foto com a gente, como se fossemos famosos! Outra coisa engraçada (no mínimo, curiosa), acho que principalmente para nós brasileiros, é que os homens andam de mão dadas, muitas vezes abraçados mesmo! Às vezes até dividem o mesmo banco, quase no colo um outro. Nós achamos esses comportamentos muito curiosos, e nos divertimos observando. São as diferenças culturais e viva a diversidade do mundo!
O que nos cansou muito na Índia foi o fato de sermos abordados o tempo todo, quer seja para pegar um tuk tuk (que, na verdade, se chama auto rickshaw!), quer seja para te vender alguma coisa. O pior é que eles não só ficam oferecendo, mas ficam insistindo muito. Eles te tocam, chamam, insistem, insistem, chega a ser invasivo! Eles são mestres na arte de "quer comprar um papagaio?". E você tem que ficar negando o tempo todo. Fora que nada tem um preço fixo, tem que negociar o tempo todo. No final, tanta insistência te deixa exausto!
Gostamos muito de vir até a Índia, mas gostar da Índia é um pouquinho diferente. Definitivamente não é um país que está na lista dos que mais gostamos, mas queríamos vir até aqui e tirar nossas próprias conclusões. E valeu a experiência, está visto e vamos para o próximo. A Dri voltaria para fazer um curso de yoga e o Manu voltaria daqui uns 150 anos. Sem dúvida nenhuma, você nunca mais será o mesmo depois de uma visita nesse país tão diferente. E achamos que depois de tudo que vivemos na Índia qualquer coisa vai ser fichinha! 

24 de novembro de 2014

Varanasi: a cidade sagrada

Dessa vez, nosso trem noturno era na Sleeper Class, que em geral é cheia de gente (indianos), dividindo camas e até chão. Nós ficamos receosos quando compramos a passagem e só tinha nessa classe, mas até que nossa viagem na sleeper class foi melhor do que imaginávamos. O trem estava cheio de turistas, o que contribuiu para que não fosse tão ruim, e pra falar a verdade, foi até bem tranquilo. O problema é que estava bem frio e o trem atrasou muito, pra variar.
Varanasi é a cidade mais sagrada para os hindus, e é um privilégio para eles vir morrer aqui. Por isso, existem vários crematórios e muitas cerimônias fúnebres na beira do Ganges. A cidade acontece na orla do rio e existem vários Ghats, que são as escadarias de acesso até o rio, e em cada um desses Ghats acontece de tudo: gente tomando banho, corpos sendo cremados, gente lavando roupa, vendedores de tudo quanto há, pessoas oferecendo passeios de barco e por aí vai... Na nossa opinião, Varanasi é a cidade mais suja, caótica, pobre e mais difícil da Índia. Se a Índia não é para qualquer pessoa, Varanasi é menos ainda. A cidade tem uma energia muito forte e dois dias lá foram mais que suficientes para nós. É fato que já estávamos cansados da Índia e Varanasi nos sugou o resto da energia. Como diriam os turistas portugueses que conhecemos no restaurante, quando você acha que está descansado e pronto para caminhar pelas ruas, você caminha por 20 minutos e parece durar uma eternidade! Parece que Varanasi consegue ter ainda mais gente querendo te vender alguma coisa, de passeios de barco a roupas, especiarias a tuk-tuk. Sempre muito insistentes e sempre com o "cheap price". Nós optamos por não fazer os passeios de barco e explorar a cidade por conta mesmo. Não tem muito segredo também, como tudo acontece na orla do rio é só caminhar por ali para ver os eventos locais. Existem alguns templos, mas o principal deles só é permitida a entrada de hindus e como a fila era muito grande decidimos não ir visitá-lo. Tem um forte na cidade também, mas pelo que ficamos sabendo não valia a pena visitar. O caminho é muito ruim até lá, muito difícil também porque passa por regiões da cidade ainda mais pobres, e o forte não tem nenhum atrativo especial. 
Caminhar pela orla do rio é interessante, intenso e, como tudo em Varanasi, exaustivo. Em um dos Ghats está localizado o maior crematório da cidade. Mas não pense que os crematórios são em lugares fechados, eles são abertos, em frente ao rio. São montadas várias fogueiras e a todo momento chegam os corpos para serem cremados. Em meio aos corpos, familiares, turistas, também estão as vacas, macacos cachorros, pessoas nadando no rio. É algo bem estranho para nós, mas eles lidam com a morte de uma maneira diferente. Nós vimos também um corpo sendo jogado no rio sem ser cremado, e nos explicaram que era uma mulher grávida. Pelo que ficamos sabendo, grávidas e também sacerdotes não são cremados, são jogados diretamente no rio. Depois da explicação a cena ficou mais forte ainda, e ficar lá observando tudo por algum tempo te deixa bem cansado! 
No Ghat principal acontece a cerimônia do Ganga Aarti (como a de Rishikesh) e terminamos nosso dia ali. A cerimônia é interessante, mas nos pareceu mais turística. Vários barcos ficam parados em frente ao Ghat para as pessoas assistirem a cerimônia do rio. Tem até um "animador de plateia", que é um senhor que fica pedindo palmas para o público. Não sei se porque a cerimônia de Rishikesh era tão especial, essa aqui não nos encantou tanto.
Mas o melhor de Varanasi foi o Dosa Café! Descobrimos esse pequeno restaurante, bem simples, mas delicioso e fizemos quase todas as nossas refeições lá. O lugar é bem pequeno, mas a comida é deliciosa e o dono uma simpatia! Fora que a sobremesa, inventada por ele, era simplesmente demais! (Só pra explicar esse não é um link patrocinado, mas de fato foi o que mais gostamos na cidade!).
E assim nos despedimos da Índia! Foram 20 dias de experiências intensas e interessantes, mas no final queríamos que nossos ventos nos levassem logo para os Himalaias!

Uma das principais ruas de Varanasi


Main Bazar

Lojinha de especiarias

Tipo a Costa Amalfitana, só que não!

Pessoal tomando banho no Ganges

O declínio de um sociedade



Ganga Aarti

23 de novembro de 2014

Khajuraho: a pequena vila do kama sutra

Antes que comecem a pensar besteira, vamos explicar melhor. Khajuraho é uma pequena vila no interior da Índia, mais ou menos entre Varanasi e Agra e é conhecida pelos vários templos com algumas figuras em posições do kama sutra. Mas o que descobrimos é que, na verdade, os templos são de celebrações, com várias figuras dançando, tocando instrumentos musicais e também em algumas posições sexuais. Diríamos que são templos que retratam a alegria e o prazer! Até tem bem menos figuras em posições sexuais do que imaginávamos, mas ficou a fama. É importante também  tentar contextualizar, muitas vezes o que é um tabu para uma sociedade pode não ser para outra. Talvez para a sociedade que construiu os templos o sexo não era um tabu e as imagens retratadas em posições sexuais eram tão comuns quanto as que estavam dançando. São sociedades diferentes, em tempos diferentes.
Chegamos em Khajuraho de manhã cedinho, não tão cedo quanto deveria ser, mas se tem uma coisa que é certa na Índia é que o trem vai atrasar! Já de cara percebemos que a cidade é bem mais tranquila e bem mais organizada (lembrando que estamos nos referindo ao padrão Índia). É bem pequenininha também, segundo ficamos sabendo, tem apenas 20.000 habitantes (e para o padrão Índia 20.000 habitantes é quase nada). Chegamos no nosso hotel, fizemos o check in e aproveitamos para descansar um pouco, afinal nós ainda teríamos 3 dias para explorar a cidade e os templos. Descansados, alugamos umas bicicletas e decidimos explorar os templos do sul, que são mais afastados. Para se ter uma ideia, são três "complexos" de templos: os do Leste, do Oeste e do Sul, totalizando 25 templos (já foram 85). Os templos do Oeste são os mais bem preservados e são os únicos que são pagos (250 rúpias por pessoa, ou 10 rúpias se você for indiano). 
Começamos nossa pedalada e logo um menino veio se juntar a nós. É sempre a mesma conversinha, perguntam de que país somos, dizem que não querem nada, apenas praticar o inglês... Como já estamos espertos com a Índia, tentamos cortar qualquer pretensão de dar dinheiro e o Manu foi direto com o menino, já avisando que não daríamos dinheiro, mas que se quisesse nos acompanhar para praticar inglês, seria bem vindo. Ele insistiu que não queria nada e foi nos acompanhando e contando um pouco sobre os templos. São três templos que compõe o conjunto do sul e são de épocas posteriores aos do Leste e Oeste. Apesar de serem de uma fase de declínio da sociedade Chandela, os templos são muito bonitos e também bem impressionantes. O trabalho das esculturas é lindo, tudo muito bem desenhado e detalhado. O caminho que fizemos para chegar aos templos também foi demais. Como são mais afastados, para chegar até eles passamos por áreas rurais e uma vila pitoresca, um cenário bem bucólico. Como já imaginávamos também, o menino nos convidou para ir até a casa dele que nós seríamos muito bem vindos (outra conversinha bem manjada por aqui), nós agradecemos e seguimos para nosso hotel. É claro que no final ele pediu dinheiro, mas nós dissemos que não. Essa é umas das partes difíceis aqui da Índia, mas não dá pra ficar dando dinheiro pra todo mundo que vem com uma conversinha simpática senão suas rúpias vão embora.
No dia seguinte, a Dri teve um dia de rainha: sempre no trono! É difícil passar pela Índia sem algum efeito colateral. Pelo menos, não foi nada tão grave, só uns dias a base de coca-cola, água e torradinha sem manteiga. Como tínhamos dias de folga na cidade, não perdemos nada (fica a dica, reserve um dia de folga na Índia para possíveis efeitos colaterais!).
Passado o dia de rainha, no nosso último dia em Khajuraho fomos explorar os templos do Leste e Oeste. São todos muito bonitos, e mais uma vez, o trabalho das esculturas é espetacular! Os templos também estão muito bem preservados. Reparamos que muitos viajantes que encontramos não pretendiam ir a Khajuraho, mas sem dúvida nenhuma, vale a visita!
Seguindo viagem, lá fomos nós em mais um trem noturno rumo ao nosso último destino na Índia: Varanasi!

Pedalando pelas vilas!

Templo do sul



Paisagem em volta dos templos

Por do sol



Templos do leste

Detalhes das esculturas

Festividades!


Templo do oeste e o entorno

Criançada jogando cricket

Meninas voltando da escola

Cafezinho de despedida

A foto ficou meio ruim, mas só pra ter uma ideia da sleeper class

17 de novembro de 2014

Agra, o Taj Mahal e o que fazer quando ele fecha

Depois de comprar nossas passagens e organizar a viagem para ficar um dia em Agra, descobrimos que o Taj Mahal fecha às sextas-feiras. E adivinha qual dia reservamos para visita-lo? Aham! Sexta-feira! Felizmente, conseguimos alterar nossa saída de Agra e ganhamos mais um dia na cidade. Mas o que fazer com esse dia? Descobrimos que nem só do Taj Mahal vive Agra, e aproveitamos nosso dia extra para conhecer outras duas atrações da cidade: o Agra Fort e o Baby Taj. Mais uma vez, negociamos um tuk-tuk (estamos ficando bons nisso, quer dizer, nós achamos!) e começamos pelo Agra Fort. O forte é bem diferente do de Jaipur, mas tão bonito quanto. Desde seus primórdios, que datam lá dos anos 1.000 D.C., o forte foi utilizado de várias formas diferentes, desde moradia dos sultões e marajás até como base militar mesmo. Passou por vários governos diferentes, sobrevivendo a invasões, abandono, mas também vivendo dias de glória. Hoje uma parte do forte ainda é dedicada ao serviço militar e não é aberta à visitação. Foi aqui também que ficou preso o imperador Shah Jahan, após ter o trono tomado pelo filho, e de onde ele podia admirar sua obra prima: o Taj Mahal. 
Após a visita ao forte, seguimos para o Baby Taj. Ao contrário do que pode parecer, o Baby Taj não é uma cópia menor do Taj Mahal, mas sim o túmulo dos pais da imperatriz Mumtaz Mahal, esposa de Shah Jahan, e para quem o Taj Mahal foi construído. Não é tão imponente quanto o Taj (olha que já estamos íntimos), mas vale a visita. A arquitetura é muito bonita e os detalhes são muito bem feitos. O trabalho é impressionante e chamaria a atenção em qualquer lugar que estivesse. Na saída, o motorista do tuk-tuk até tentou nos levar para conhecer o bazar, com bons preços para compra, mas nós insistimos que não queríamos comprar e seguimos para nosso hotel.
No dia seguinte, nossa ideia era levantar e ver o sol nascer no Taj, mas não conseguimos. O ideal é chegar lá o mais cedo possível porque é menos lotado. Chegamos lá por volta das 9:30 e já estava bem cheio, mas ainda assim, menos cheio do que quando nós saímos. O Taj Mahal não deixa sua fama por menos. De fato, é muito lindo e vale a vinda até aqui só para visita-lo. É impressionante! O complexo é bonito desde os portões de acesso. Várias vezes você tem que olhar para o Taj para acreditar que é verdade mesmo! A riqueza dos detalhes, a precisão da construção, a simetria, a delicadeza e ao mesmo tempo a grandiosidade, fazem do Taj uma das maravilhas do mundo moderno.  Gaste um tempo por lá, caminhe, observe cada flor, cada detalhe cravado no mármore branco. A parte interna também não deixa por menos, é de ficar boquiaberto! Nós passamos a manhã toda por lá e até agora estamos encantados.
Uma coisa é fato, existe um contraste, pra não dizer um abismo, entre o que existe dentro dos portões do Taj Mahal e o que existe por fora. Enquanto você está dentro dos portões do Taj até esquece que existe uma cidade lá fora, mas logo que você sai a cidade grita aos seus ouvidos. É estranho pensar que há 400 anos essa sociedade construiu o Taj Mahal, de beleza e perfeição incríveis, e hoje vive em meio ao caos e não consegue construir uma parede alinhada. Nós passamos por uma obra de infra-estrutura urbana e ficamos chocados com o que vimos na escavação do solo: camadas e mais camadas de lixo (principalmente plástico). E a obra era em uma das ruas que dá acesso ao Taj Mahal. Mas isso é a Índia! São os contrastes bruscos, o choque de realidade, o "soco o estômago", que fazem daqui um lugar que você ama e odeia, admira e despreza, aceita mas não entende.... E vamos que vamos, seguindo viagem por essa terra tão diferente!

Agra Fort


Quem quer ser um milionário? (ache o Manu)

"Photo, photo"

 Prisão do antigo Sultão

 Há alguns séculos, eles conseguiam fazer duas paredes paralelas...

Dizem que dá pra ver o Taj Mahal daqui


Entrada do Baby Taj

Baby Taj

O Taj!






O lado de fora do Taj

Detalhe do rodapé


Vocês não acham que o kiwi está menos estressado?

O contraste