29 de novembro de 2014

Nossa travessia da Índia para o Nepal

Sair de Varanasi e chegar até Pokhara, no Nepal, foi uma saga! Saímos de Varanasi em mais um trem noturno rumo a Gorakhpur, ainda na Índia. Mais uma vez não conseguimos lugar numa classe melhor, então só nos restava viajar na sleeper class mesmo. Só que dessa vez a experiência foi muito diferente. Para começar, não tinha quase nenhum não indiano na estação. Éramos somente nós dois, 3 polonesas (que conhecemos quando compramos as passagens) e três meninos (dois de Andorra e um australiano). Quando encontramos as polonesas estávamos torcendo para elas estarem na mesma cabine que a gente, mas, infelizmente, elas não estavam. Pra variar um pouquinho, o trem que estava marcado como "no horário" chegou atrasado. Ok, coisas da Índia. 
Chegamos na nossa cabine, que era para 8 pessoas, e tinham umas 20 pessoas, sendo que duas delas estavam em uma de nossas camas. Bom, nós pedimos para que elas se retirassem, afinal alguém ali não tinha pago a passagem e não éramos nós.  Além disso, era a primeira cabine (para entender melhor como funcionam os trens e as cabinas na Índia, veja esse post aqui) isso significa que estávamos perto da porta de entrada do trem e também perto do banheiro. Nos organizamos em nossas camas, juntamente com nossas mochilas e olhamos um para o outro com a sensação de que seria uma noite longa. A cabine continuava cheia, e as pessoas se amontoavam nas camas e no chão. Alguns iam em pé mesmo, no corredor e próximos à porta de saída do trem. Como a porta ficou aberta o tempo todo, entrava um ar bem frio e cada vez que o trem diminuía de velocidade todo o cheiro do banheiro vinha junto com a corrente de ar. Como se não bastasse, o indiano que estava embaixo da cama da Dri ficou peidando a noite inteira, além do cheiro de chulé e dos roncos. É, não foi a melhor viagem de trem da nossa vida, mas chegamos em Gorakhpur! 
Lá encontramos nossos companheiros de viagem e seguimos em busca do ônibus que nos levaria até a cidade da fronteira. Andamos um trecho meio (ou completamente) perdidos tentando encontrar a parada de ônibus e quando fomos perguntar para um policial, parou um ônibus que iria para a cidade da fronteira. Lá fomos nós! Claro que o busão era o típico da Índia: caindo aos pedaços e cheio de gente, mas tudo bem, eram só 3 horinhas de viagem! Depois de sacolejar por 3 horas no busão, enfim chegamos à fronteira. 
Sunauli é uma cidade bem feia, bem estilo Ínida: suja, cheia de gente, confusa e fedida. A diferença é que tinha uma fila quilométrica de caminhões esperando para atravessar a fronteira. Nós descemos do ônibus e seguimos a pé para tentar chegar no Nepal. Estávamos nos sentindo os próprios refugiados tentando sair de um país para outro, ou então mexicanos tentando chegar nos Estados Unidos. A cena era bem surreal, palavras não são suficientes para explicar e ficamos receosos de fotografar (fronteiras sempre são pontos delicados e às vezes uma foto pode gerar um problema). Seguimos em fila no meio dos caminhões, motos, carros, tuk tuks, vendo com esperança que o portal da fronteira estava próximo, quando ouvimos um indiano gritar e nos mandar ir primeiro no posto policial da Índia para depois entrar no Nepal. Sabe quando você não bota muita fé, pois é, estávamos meio desconfiados, mas também não tínhamos muito o que fazer. Entregamos os passaportes (com o coração apertado, o lugar era bem estranho) e recebemos os carimbos de saída da Índia. Claro, para entrar num país primeiro tem que sair do outro! 
Seguimos nossa caminhada, agora o Nepal estava bem pertinho! Passamos pela imigração, pegamos nossos vistos e entramos no Nepal (todos comemoram!). Despedimos de nossos amigos e fomos atrás do ônibus que nos levaria até Pokhara. Pesquisamos alguns preços e decidimos andar mais um pouco para tentar uma oferta melhor. Andamos por uma estrada procurando a rodoviária e acabamos num rickshaw que teoricamente nos levaria até lá. No final, ele nos deixou numa agência de turismo, e o preço do ônibus era o mesmo que já tínhamos pesquisado, resolvemos comprar logo as passagens e a vantagem é que saímos com dinheiro do Nepal e um hotel reservado em Pokhara. 
Nosso ônibus era local, e mais uma vez a cena era surreal. Sabe quando você não acredita que está acontecendo? Pois é, era meio por aí... A Dri olhou a cena ao redor e caiu na risada (talvez de nervoso!)! Nessas horas (e em todas as horas) rir é sempre o melhor remédio! Como diz a Dri: segura na mão de Deus e vai. E assim fomos, sacolejando por mais 8 horas de viagem de pura emoção. Detalhe: ao som do melhor da música nepalesa (sim, o motorista fazia questão de colocar o som alto)! O outro pequeno detalhe é que estávamos sem comer, a nossa única refeição do dia foi um pacote de bolachas enquanto esperávamos o carimbo de saída da Índia. Pra não dizer que não comemos nada durante todo o caminho até Pokhara, compramos umas mexericas e uma samosa (a samosa parece um pastelzinho em forma de triângulo e é muito comum na Índia e no Nepal) na parada de beira de estrada. As horas pareciam eternas dentro do busão, mas como no final tudo dá certo, chegamos (não sei se muito sãos), mas salvos em Pokhara! E para nossa felicidade encontramos carne e cerveja, uhu! Depois de um dia tão longo a gente bem que estava merecendo! 

Sacolejando no busão a caminho da fronteira!
Entrando no Nepal (todos comemoram!)

Nosso merecido jantar! Amamos o Nepal!

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