14 de novembro de 2014

Rishikesh: um lugar para renovar as energias

Rishikesh é um lugar muito especial. Como nós fomos até lá por motivos diferentes, queremos compartilhar nossa experiência dos dois pontos de vista: o da Dri e o do Manu.

by Dri

Posso dizer que os dois principais motivos que me trouxeram à Índia são o Taj Mahal e Rishikesh. O Taj Mahal por motivos óbvios, já Rishikesh entrou na minha lista de lugares a conhecer desde que comecei a praticar yoga. A cidade é conhecida por ser um dos centros de prática de yoga na Índia e existem muitos Ashrams, que são lugares dedicados à meditação. Nós fizemos uma pesquisa e reservamos uma semana em um dos Ashrams de Rishikesh, o Parmarth Niketan.
Chegar até lá foi uma saga! De manhã cedinho pegamos um trem em Delhi para Haridwar, a cidade mais próxima que tinha trens diretos. De Haridwar pegamos um ônibus local. Agora, imagina o que é um ônibus local na Índia. É isso mesmo que você está imaginando! Caindo aos pedaços, muito sujo, a porta abria quando o motorista fazia uma curva, as pessoas pulam com o ônibus em movimento e por aí vai. E lá fomos nós também, acho que foram os 25 km mais longos da minha vida. Assim, como o ônibus a estrada também era um caos. Mas enfim chegamos à estação de Rishikesh. Bom, aí tinha mais uma parte da viagem: descobrir como chegar até nosso Ashram. Lá fomos nós atrás das informações e por fim nos restou negociar o preço do tuk-tuk até um certo ponto e de lá seguiríamos a pé. E assim seguimos com nossas mochilas até nosso Ashram. Chegando lá até respirei fundo. A primeira cena que vi ao cruzar os portões foi a montanha ao fundo, muita vegetação e um jardim agradável. Naquele momento tive um alívio grande e uma alegria de estar naquele lugar. Fizemos o nosso check-in e nesse momento fiquei um pouco decepcionada. O site do Ashram não falava a respeito do valor, apenas que era feita uma doação. Nós havíamos feito uma pesquisa e tínhamos uma ideia que era bem em conta, e que incluía refeições. Na verdade a doação é feita da seguinte forma: o cara da recepção olha pra você e te passa um valor, e as refeições não estão inclusas (a não ser que você esteja inscrito em algum curso). De qualquer maneira, o valor não é caro, nem da estadia, nem das refeições, pelo contrário. E achamos muito justo o que nos cobraram. O problema é que não há informação em nenhum lugar sobre os valores, e a impressão que tivemos ao ler o site é que você é que determinaria o valor da doação. Nesse momento até bateu uma pequena insegurança, diria até que uma pequena desilusão. Mas todos os sentimentos se transformaram ao final do dia. O Ashram promove todos os dias, ao pôr do sol, uma cerimônia linda chamada Ganga Aarti, com música e aberta à comunidade. No momento que nos sentamos nas escadarias, em frente ao Ganges (que aqui é limpo), olhei para o sol se pondo e senti uma energia tão boa, que levou embora qualquer sentimento ruim. Na hora que os meninos começaram a cantar, fiquei emocionada. Naquele momento senti que seria uma semana especial. E a partir daí, parece que foi tudo encaminhando para que a semana fosse especial mesmo! Logo conhecemos um casal de brasileiros que fizeram a diferença nos nossos dias aqui. A Bruna e o Thiago são pessoas muito especiais, e ficamos muito felizes em conhece-los. Já de cara nos convidaram para jantar no restaurante Tip Top, que iria se tornar o nosso restaurante oficial (jantamos lá todas as noites!). Criamos uma rotina muito gostosa em Rishikesh: eu praticava yoga duas vezes ao dia (só não fiz mais porque não tinha), fazíamos uma caminhada matinal para explorar os arredores, cerimônia do pôr do sol em frente ao Ganges e jantar no Tip Top. O interessante é que eu imaginei uma rotina diferente para o Ashram e no final foi muito melhor do que eu pensei. Achei que seria bem mais introspectiva, mais horas de meditação por dia, e até que eu e Manu ficaríamos em quartos separados. E na realidade, ficamos no mesmo quarto, conhecemos muitas pessoas bacanas, visitamos lugares muito interessantes, como o Ashram que os Beatles se hospedaram nos anos 60 e que hoje está em ruínas. Sem dúvida nenhuma, foi uma semana maravilhosa, conseguimos repor nossas energias e acho que estávamos precisando exatamente disso nesse momento da viagem. A vontade era ficar por aqui vários dias, mas ainda temos um Índia inteira a explorar (que dizer, a parte que selecionamos para conhecer). Pelo menos, com as baterias recarregadas fica mais fácil colocar o pé na estrada!

by Manu

Já posso até ouvir: “Hahaha. O Manu?! Num ashram?! Fazendo meditação?! Pagava pra ver!!!!” Pois podem “go taking your little horse out of the rain” como eles dizem no inglês com sotaque e conjunções indianas, pois isso realmente aconteceu, mas as cenas seriam muito fortes e acabamos por não registrar esses momentos.
Devo começar este texto explicando quais eram minhas pretensões aqui em Rishkesh. Por ser uma cidade de altíssimo valor religioso para a população hindu (talvez apenas superado pela cidade de Varanasi), principal centro de estudos e da prática de Yoga no mundo, minhas intenções nesta cidade que ao fim, acabou por me convencer, eram muito complexas: Basicamente, tinha a intenção de fazer e de me comprometer ao máximo a uma arte bastante conhecida dos homens: fazer absolutamente NADA. Exatamente. Sabe aquele momento em que se está em frente à TV, apenas passando os canais, sem realmente pensar em nada, e aí então alguém interrompe esse momento tão sagrado com a velha pergunta: “Em que você está pensando?!?!” E aí a sua resposta mais sincera possível é “Nada”? Então... Era isso que eu vinha buscando após mais de 2 meses de viagens seguidas. Mas você acha que é fácil?! Eu, ao menos não fui tão bem sucedido assim. E vou tentar explicar as razões nas linhas que se seguem.
Ao pensar no refinamento do itinerário da nossa viagem, já após termos decidido vir à Índia, a Dri, bastante receosa de que eu não aceitaria ir para Rishkesh, preparou uma extensa argumentação sobre por que ir, onde ficava, a importância da cidade, contendo inúmeros slides textos, gráficos, e latas de cerveja acompanhados de amendoim, de forma que automaticamente, concordei. Afinal, por que não? Pensei. Assim tracei meu complexo plano de não fazer nada neste período da viagem. Ficaríamos uma semana em um ashram, e enquanto a Dri estivesse nas aulas de Yoga e meditação, eu me dedicaria ler mais, desenhar, ou até mesmo dormir. Nem mesmo me incomodava com o fato de ter que adotar uma alimentação vegetariana por uma semana. Mas devo dizer: Fui parcialmente enganado: Rishkesh tem muito mais a oferecer do que apenas Yoga e meditação. Sim, fiz uma aula de Yoga e participei de uma sessão de meditação em hindi, mas também dormi bastante (aproximadamente 11 horas por dia), li um livro e meio da minha lista de livros, conheci pessoas incríveis como um casal de brasileiros de Araraquara que nos serviram de guia (Thiago e Bruna, conhece-los, fez nossa estadia em Rishkesh ser muito especial) descobri que Shiva também aderiu à moda das selfies, e em Rishkesh, ao acompanhar diariamente o Aarti Ganga, celebração de agradecimento e de oferendas ao Ganges, apreciando o por do sol junto ao Ganges, me deixei convencer definitivamente pela Índia, por mais difícil que isso possa ser.
No entanto, por mais incrível que seja, Rishkesh, ainda é a Índia. Muitos pedintes pelas ruas apertadas, disputando espaço com banquinhas que vendem de tudo, motos, tuktuks, muitas, mas muitas vacas mesmo (fomos até atropelados por uma delas em um dos dias), macacos, insistentes vendedores de lojas de “pedras preciosas” (entre aspas mesmo) e restaurantes, e obviamente, turistas em quantidade ainda superior às das vacas. Outras manias não te deixam esquecer de que você ainda está na Índia: os insistentes e chatos motoristas de tuk tuk e as péssimas condições dos ônibus regulares no quais se vai de Haridwar até Rishkesh, as constantes buzinas que se ouvem até onde não há tráfego de autos, e o esporte preferido dos indianos: negociar até conseguir te passar a perna. E eles ficam bem contrariados quando não conseguem. Como apontado pela Dri, a nossa chegada ao Ashram nos lembrou muito isso. Após planejarmos e pesquisarmos por uns 6 meses, entrarmos em contato, e tomarmos todos os cuidados, somente após preenchermos todos os papéis para entrada no Ashram, é que nos foi dito que a “doação” era de 600 rúpias por dia sem direito a alimentação. Parece que o conceito de doação na Índia, é muito similar ao nosso conceito de pagamento por serviços prestados, portanto, justo, a não ser pelo fato de que ninguém te diz isso claramente com antecedência. Isso contribuiu para estourarmos um pouco nosso orçamento, uma vez que esse era o orçamento diário total previsto para esta fase da viagem, incluindo todas as despesas. E aos desavisados, o mais importante: esta cidade localizada bem aos pés da cordilheira do Himalaya, onde o Ganges ainda possui águas razoavelmente limpas a ponto de ser possível entrar, é regida por uma lei bastante radical: em Rishkesh, são terminantemente proibidos o consumo e comércio de carnes (de qualquer tipo) e álcool. É uma cidade vegetariana por lei.

A Índia é assim. Um conflito constante de sentimentos. Você gosta mas não gosta. Em Rishkesh, especialmente, você pode se imaginar vivendo por ali por anos, ao mesmo tempo em que por vezes mal pode esperar para ir embora e escapar daquela bagunça. Você odeia os insistentes vendedores na rua, e os motoristas de tuk tuk, mas aprende com eles um pouco da arte de negociar, e acaba virando fã dessa incrível habilidade que eles possuem. E você? Conhece algum país que te faz sentir assim?! Eu lembro de um que eu costumava chamar meu país.

Rishkesh: O Ganges, o Himalaia e a cidade

Vacas, pessoas e macacos (além de motos)
na ponte suspensa de 1,20 metros de largura

Entrada do Ashram 

Shiva numa selfie


O Aarti Ganga

Um dos "amarelinhos" que cantam no Aarti Ganga

Pertinho do Ganges 

O por do sol no Ganges vale a visita

Oferendas aos deuses no Ganges

Pézinho lá. Aqui ele ainda é limpo...

As crianças também se enfeitam para o Aarti Ganga

Sessão de Yoga

O Ashram onde os Beatles escreveram o White Album

E a antiga sala de Yoga que hoje é batizada como
"The Beatles cathedral"

2 comentários:

Alessandra Urani disse...

Dri e Manu, tenho acompanhado sempre o dia dia de vocês. Estão transmitindo de uma forma que parece que estou aí também...Mas, confesso, não me convenceram sobre a Índia. Não incluí nos "meus 10 lugares à visitar antes de morrer"Rss! Beijos, lelé

Unknown disse...

Nossa fiquei encantada como o post, a colocaçao dos dois. Me emocionei com a Dri e morri de rir com o Manu, apesar dos problemas existentes, incluiria a India sem duvida na lista de lugares a conhecer...um verdadeiro aprendizado, em todos os sentidos !!! beijo grande meu e do Rafa