3 de fevereiro de 2015

Laos: descendo o rio Mekong

Saímos de Chiang Mai numa segunda-feira cedo, e fomos em direção à fronteira com o Laos. A viagem durou cerca de 5 horas e foi bem tranquila. O ônibus era muito bom (mesmo não sendo VIP) e ainda ganhamos bolachinhas e água (puro luxo!). O ônibus nos deixou próximos à Chiang Khong e logo na descida pegamos um tuk-tuk até a fronteira. Pelo menos aqui o preço é tabelado, e tem uma placa com o valor. Passamos pela imigração da Tailândia e pegamos um ônibus (só para atravessar a ponte) e chegamos na imigração do Laos. Aqui foi muito simples (bem mais do que imaginávamos), preenchemos o formulário, pagamos o visto e pronto! A travessia foi muito mais tranquila do que esperávamos. Na saída pegamos um outro tuk-tuk (nós tínhamos pesquisado o preço e foi mais ou menos o que estava no guia) e partimos para a cidadezinha da fronteira: Houai Xay. Conhecemos um italiano, que também não tinha hotel na cidade e se juntou a nós para procurar um. Descemos na rua principal (ou única da cidade) e fomos direto numa Guesthouse, que também já tínhamos lido a respeito no Lonely Planet, e ficamos por lá mesmo (barata e razoavelmente limpa, só por uma noite tá ótimo!). Nosso novo amigo nos convidou para tomar uma cerveja e comer alguma coisa. Lá fomos os três, afinal, se existe uma coisa típica do Laos é a BeerLao, consumida diariamente por todo país! Bom papo, boa cerveja e comida boa também, o fim de tarde foi bem agradável. Depois saímos para caminhar um pouquinho pela cidade (na verdade, pela rua, só tem uma mesmo!), fomos a um templo e vimos o sol se por no rio Mekong. No próprio hotel, compramos nosso passeio de barco e daí seriam dois dias descendo o rio.
No dia seguinte, nos despedimos de nosso novo amigo, que foi para o norte do país, e seguimos para o “porto”. Teoricamente, nosso barco sairia às 9:30 da manhã, mas como tudo no Laos tem um horário próprio, saímos às 13:00 (Lao time).
A descida é muito bonita. Muitas pessoas acham monótona, mas nós gostamos muito. É gostoso observar a paisagem mudar, as vilas ribeirinhas, as pessoas que aparecem e desaparecem nas margens do rio. De vez em quando você vê crianças brincado, velhos pescando, plantações, animais... A viagem de barco tem uma outra dinâmica, ela é lenta e contemplativa.
No final do dia paramos em uma vilazinha, Pak Beng, para dormir e seguir viagem no dia seguinte. A vila também só tem uma rua e nela estão os hotéis e restaurantes da cidade. O Laos foi por muito tempo um protetorado francês e como herança dessa época ficaram as padarias e seus deliciosos pãezinhos, croissants, muffins! A Dri ficou surpresa! Nunca tinha passado pela cabeça dela comer um croissant delicioso no Laos! Ela estava esperando uma noodle soup de manhã e não um pãozinho. Engraçado como felicidade pode estar onde menos imaginamos, e no caso da Dri ela estava no pão francês com manteiga no café da manhã!
Seguimos viagem e o barco saiu pontualmente! Dessa vez, o barco era um pouco diferente, com mesas. Na nossa mesa estava também um senhor alemão e uma canadense. Já no começo da conversa, descobrimos que o senhor alemão é de origem da mesma região da família da Dri. E o mais curioso é que a história da avó dele, que durante a guerra teve que ir embora da casa sem olhar para trás, é a mesma dos familiares da Dri que viviam ali. Coincidências da vida! Nesses 5 meses de viagem, ao longo do nosso caminho fomos conhecendo pessoas dos mais diversos países e com as mais diversas histórias, mas foi muito engraçado conhecer alguém com uma mesma história de família e com descendentes de uma mesma região. Uma brasileira e um alemão identificarem um ponto comum em suas histórias dentro de um barco, descendo o rio Mekong no Laos!
Assim como o dia anterior, a viagem correu tranquila, com momentos de conversa, outros de contemplação e assim fomos até Luang Prabang!
O único problema foi na hora em que chegamos em Luang Prabang. O barco deveria parar no “porto” próximo ao centro da cidade, porém a regra foi mudada e os barcos estão parando a 10 km do centro. A parte ruim disso, é que você é obrigado a pegar um tuk-tuk, com um preço já tabelado e caro, e não tem uma segunda opção. Nós não concordamos com esse tipo de coisa, porque você acaba ficando de mãos atadas, sem ter opção. Quando os barcos paravam próximos ao centro, as pessoas tinham opção de ir a pé, ou negociar o preço do tuk-tuk, mas dessa maneira não mais. Ficamos tristes quando vemos que ao invés de explorar o turismo, estão explorando o turista! De qualquer maneira, isso não estragou a beleza da nossa viagem e nós realmente gostamos da viagem de barco pelo rio Mekong. A viagem foi tão inspiradora, que ainda dentro do barco a Dri escreveu algumas palavras que refletem um pouco da viagem:

"A viagem começa lenta... A espera para a partida é longa, mas para descer o rio e sentir o rio não se pode ter pressa. O caminho é longo, são dois dias, mas para que apressar as coisas? A paisagem muda, as pessoas mudam, alguns entram no barco, outros saem do barco. Nós vamos até o destino final, mas me pergunto se existe um destino final? Se pensar bem, nós desceremos também no meio do caminho, não vamos até o mar, e quando o rio chega ao mar ele também não acaba, mas se transforma em muito mais água e se dissolve em vários pontos, e continua a correr...
As águas mudam, a paisagem muda. Às vezes a correnteza fica forte, o rio corre rápido... Às vezes as águas acalmam, quase não se nota que continuam a se mover... Assim também são os barcos... Alguns passam rápido, rápido até demais, outros estão parados, outros se movem lentamente, outros apenas mantêm o ritmo...
O sol muda de posição, passa de um lado para o outro, cai no final da tarde... Renasce no dia seguinte. Desaparece no meio das nuvens. O dia amanhece nublado, frio, as nuvens encobrem o sol... De repente, o rio faz uma curva e as nuvens desaparecem, ali está o sol. Ele brilha, se reflete no rio, aquece o barco.
As cores mudam... O rio é marrom, mas às vezes dourado... Às vezes um pouco esverdeado. E quando a noite cai, o rio é negro, em algum ponto é prateado como a lua...
O verde muda... Em alguns pontos é mais claro, em outros mais escuro. As árvores mudam... Às vezes são de um verde tão intenso, às vezes são marrons, às vezes são verde claro, outras escuro, outras vezes vermelhas... Algumas com muitas folhas, algumas com poucas folhas, ou ainda sem nenhuma folha.
Às vezes montanhas, às vezes pedras, às vezes areia...  Às vezes as montanhas tocam o céu, às vezes formam um vale. Em alguns pontos os verdes da montanha se mesclam com o azul do céu.. Ah, que céu azul! Mas o azul também muda, às vezes mais claro, outras mais escuro, às vezes cinza, às vezes branco... Às vezes muitas cores, as cores do crepúsculo...
A margem do rio muda... Pessoas aparecem e desaparecem... Algumas lavam roupas, outras pescam, outras apenas nadam, outras se lavam... Algumas acenam, outras olham com curiosidade... Algumas casas surgem, uma vila surge, um templo surge...
A vida passa ao longo do rio, mesmo quando ela parece parar... E a vida segue, como o barco que desce o rio, como as pessoas que entram ou saem do barco, como os animas que matam a sede no rio. O sol se põe, o sol nasce... E o rio segue o curso, e as águas mudam e em algum momento elas se transformam em mar..."
By Dri Salles


Provando a tão famosa Beer Lao

Pôr do sol em Houai Xay

Adoro gente bem humorada! Mercadinho onde compramos
nossos mantimentos de viagem!

"Porto", esperando o barco sair












Um comentário:

Luiz Antonio e Cristina disse...

Queridos filhos!
Dri, pra mim o rio Mekong se tornou muito mais importante agora do que quando recebeu o Marlon Brando e o Rambo, ele despertou a poeta que existe dentro de você. Maravilha seu poema. Outra coisa, o encontro com o alemão vem confirmar aquela teoria de que entre duas pessoas totalmente estranhas existem no máximo 7 conhecidos.
Bjs.............Cristina e Luiz